Vargas chega à capital federal como líder absoluto do movimento, instaurando um governo provisório. Apesar da promessa de que seu governo teria caráter temporário, na prática, Vargas adotou medidas para se fortalecer, suspendendo a Constituição em vigor (de 1891), fechando o Congresso Nacional e demitindo governadores contrários aos seus interesses.
Como o Brasil passava pelos efeitos desastrosos da Crise de 1929, Vargas procurou fortalecer a economia baseada no café, que continuava sendo o principal produto de exportação do Brasil. Manteve a política favorável aos cafeicultores, comprando o café excedente visando a elevação dos preços no mercado externo, além de criar o Departamento Nacional do Café, com o objetivo de auxiliar os cafeicultores. Em 1931 para socorrer os cafeicultores, Vargas decretou a compra de 17,5 milhões de novas sacas de café, o que equivalia a mais da metade da safra anual registrada naquele ano. Nesse mesmo ano, Vargas usaria outro expediente ainda mais desesperado, a incineração de estoques, numa medida de manter a estabilidade dos preços no mercado externo.
“A velha política de valorização artificial do preço do café demonstrara toda a sua estrondosa ineficácia. Diante da crise mundial, na impossibilidade de conseguir recursos internacionais como historicamente vinha sendo feito, repassou parte dos custos de financiamento da produção ao próprio setor cafeeiro, que assim foi surpreendido pela criação de novos tributos. Para evitar os recorrentes surtos de superprodução e controlar a oferta, além de simplesmente mandar queimar boa parte dos estoques, o Governo Provisório passou a cobrar, entre outros gravames, mil-réis sobre cada novo pé de café plantado. Com o objetivo de ampliar a intervenção federal sobre a lavoura paulista, fundou o Conselho Nacional do Café, esvaziando muitas das funções do Instituto do Café de São Paulo. Nada disso, é claro, agradou aos produtores locais e, por conseguinte, às suas lideranças políticas.” (Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo. (1930-1945) / Lira Neto. – 1ª ed – São Paulo : Companhia das Letras,. 2013.)
Vargas decretou ainda a suspensão do pagamento da dívida externa, que seria retomada somente no início da década de 1940. A respeito da difícil situação financeira. “Getúlio herdara uma dívida externa de cerca de 237 milhões de libras esterlinas. Sem dinheiro em caixa, ficou impossível honrar o serviço dos empréstimos anteriores. Para evitar o colapso, foi preciso negociar um empréstimo de consolidação, um funding loan, recurso extremo antes levado a efeito apenas pelos presidentes Campos Sales, em 1898, no auge da crise da primeira década republicana, e Hermes da Fonseca, em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Com esse terceiro funding loan, o Brasil consolidou e reescalonou a dívida por um período de três anos, prazo durante o qual o país, em tese, buscaria se reorganizar financeiramente.” (Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo. (1930-1945) / Lira Neto. – 1ª ed – São Paulo : Companhia das Letras,. 2013.)
No campo político Vargas tinha, de um lado, os políticos conservadores, que pouco estavam interessados em alterar as estruturas do estado brasileiro. De outro, havia os políticos reformistas, podendo-se incluir os tenentes, que desde o início da década de 1920 defendia um estado forte e centralizado, com a estatização de setores fundamentais da economia brasileira. No campo das ideias devemos lembrar que eventos fundamentais nas décadas anteriores como a Revolução Russa, a Primeira Guerra Mundial e a própria Crise de 1929 haviam abalado o ideal liberal, favorecendo amplamente o desenvolvimento e a adesão a de propostas autoritárias e nacionalistas.
E nessa ebulição política que devemos entender a intenção de Vargas em centralizar o poder, reduzindo a autonomia dos estados. Nesse sentido, uma das ações de Vargas foi a nomeação de interventores (para substituir governadores) o que traria insatisfações em vários estados, eclodindo, inclusive, em São Paulo a Revolução Constitucionalista (1932).
Sobre o movimento Vargas diria que: “Dizem-se constitucionalistas. Mas isso é pretexto. Há mais de um mês nomeei a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição.” Os paulistas exigiam autonomia estadual e o fim do Governo Provisório. Apesar das promessas de Vargas em relação à normalização política, os paulistas formaram a Frente Única Paulista e o MMDC e partiram para a luta armada. O movimento não teve o apoio de outros estados e, mesmo com uma grande mobilização de voluntários para o combate, acabou sendo reprimido em três meses. Para além do fracasso da Revolução de 1932, Getúlio Vargas pensou que sofreria um golpe e aventou a possibilidade de cometer suicídio:
“Quando o general entrou no gabinete presidencial, dois detalhes logo lhe chamaram a atenção. Sobre a mesa, havia um envelope fechado, onde se podiam ler as seguintes palavras: “À Nação Brasileira”. E enquanto Getúlio continuava a caminhar de um lado para outro, Góes pôde perceber, saindo de um dos bolsos externos do paletó escuro que o chefe de governo vestia, o inconfundível cabo branco de madrepérola de um revólver.
A arma permaneceria no bolso de Getúlio durante os dias seguintes. E o conteúdo do envelope ficaria guardado nos seus papéis pessoais como um atestado à posteridade de que o autor daquelas linhas, quando confrontado por uma situação incontornável, por mais de uma vez cogitou o recurso extremo como única saída honrosa. (Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo.” (1930-1945) / Lira Neto. – 1ª ed – São Paulo : Companhia das Letras,. 2013.)
Ao fim, para a deposição das armas e rendição incondicional, Vargas ascenou com a possibilidade da nomeação de um interventor civil e paulista - desde que não estivesse ligado aos rebeldes - e a anistia dos envolvidos (embora, depois tenha cassado o direito civil de cerca de 200 envolvidos na revolta por 3 anos). A respeito da volta de um interventor paulista, Vargas escreveu: “Vou entregar São Paulo aos que fizeram a revolução contra mim. Não pode haver maior demonstração de desprendimento. Será que estou colocando armas nas mãos dos inimigos? Que farão na Constituinte? O futuro dirá, e muito próximo”. Estima-se que nos 87 dias de conflitos tenham morrido mais de 600 paulistas, além de 15 mil feridos, sem contar as baixas governistas, jamais devidamente contabilizadas.
Em 1933 os brasileiros foram às urnas para escolher os representantes para compor a Assembleia Constituinte. Na época, a população brasileira era de cerca de 40 milhões de pessoas e o total de votantes foi de aproximadamente 1,2 milhões, inferior ao número de eleitores nas eleições de 1930, que havia ficado na casa dos 2 milhões.
A Era Vargas (1 de 5) - A Revolução de 1930
A Era Vargas (2 de 5) - Governo Provisório - 1930-34
A Era Vargas (3 de 5) - O Governo Democrático - 1934-37
A Era Vargas (4 de 5) - O Estado Novo - 1937-45
A Era Vargas (5 de 5) - O Estado Novo - 1937-45 (Industrialização, populismo e benefícios sociais)
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