Política de Boa Vizinhança - Donald no Rio de Janeiro



Produzido por Wald Disney, Alô Amigos é uma preciosidade produzida na época da Política de Boa Vizinhança. O objetivo de Disney é explícito: descobrir o que há de interessante é exótico abaixo da linha do Equador. Na animação vários personagens da Disney percorrem lugares inusitados da América Latina, nesse misto de curiosidade e descoberta em relação ao exótico. A última parada é no Rio de Janeiro onde o Donald se depara com Zé Carioca, encarnação do malandro carioca, e de resto, seguindo a linha de Gilberto Freire, típico traço da própria personalidade do brasileiro, ou seja, a ginga do malandro é a mesmo “ginga” descolada com o qual os brasileiros jogam futebol, ou resolvem seus problemas, sempre na tangente da lei. 


Há de se destacar, que estamos em plena Segunda Guerra Mundial e que os norte-americanos procuram efetivar um esforço gigantesco – para eles – mudando a tradicional política do “porrete”, ou Big Stick para uma aproximação em termos culturais. Trata-se de impedir a disseminação dos valores dos regimes totalitários na América Latina, e, sobretudo, garantir a continuidade da já usual “América para os americanos”, ou na acepção mais acertada, América para os “norte-americanos”. 

É assim que depois do já conhecido título de “terra dos papagaios”, os brasileiros serão brindados, enfim, com um papagaio produzido por Disney. 

Assim no lugar do tradicional aperto de mão norte-americano, Donald é recebido por um caloroso abraço de Zé Carioca, simpático e extremamente hospitaleiro, colocando rapidamente Donald a par das belezas da fauna e da flora brasileira, da música e em especial do samba, da sensualidade e do onírico que o Brasil representa. O estereótipo, é claro, permanece de uma forma geral, ainda hoje inalterado na percepção norte-americana em relação ao Brasil. 

Cabe destaque, também, que apesar da idéia da formação da identidade cultural e étnica brasileira a partir das três raças (índios, negro e brancos europeus) bastante usuais na época, o desenho mostra um Brasil sem negros, representando os interesses lógicos da elite brasileira e evidenciando um Brasil mais deglutível para os norte-americanos.



Imago História

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