A Rússia e a crise na Crimeia/Ucrânia


A Ucrânia 

Situado na Europa Oriental, a Ucrânia possui um território que compreende uma área de 603.628 quilômetros quadrados, o que o torna o maior país totalmente no continente europeu. Trata-se da segunda maior economia da região, considerada o “celeiro da Europa”, sendo um dos maiores exportadores de grãos do mundo (em 2011 era o terceiro maior exportador de grãos do mundo).


A Ucrânia fazia parte da antiga URSS, conquistando sua independência em 1991 no colapso do mundo socialista. O país é composto por províncias e uma república autônoma, a Criméia. Além disso, tem uma cidade que é muito singular: Sevastopol, que abriga a Frota do Mar Negro da Rússia. Desde a dissolução da URSS o país continua a manter o segundo maior exército da Europa, superado apenas pela própria Rússia. 


O país é o lar 45 milhões de pessoas, sendo que a oeste a maioria é de ucranianos, e ao leste existe a forte presença de povos de origem russa (é o caso da Crimeia). A crise na Ucrânia envolve exatamente essas diferenças étnicas.

A Crimeia

A região da Crimeia fez parte da Rússia por muito tempo, desde o século XVIII, sendo incorporado no pós-revolução russa à URSS como uma república socialista e, posteriormente cedida por Nikita Kruschev à Ucrânia em 1954.

Em 1991, com o esfacelamento da URSS, a Crimeia vai conquistar sua autonomia (contudo, mantendo-se vinculada a Ucrânia), e desde então a região vai apresentar fortes tensões separatistas. Esse fato fica evidente em 1994, quando a Rússia, o EUA e o Reino Unido assinaram o Memorando de Budapeste, onde se comprometem a garantir a integridade das fronteiras da Ucrânia e em troca os ucranianos abriam mão do então terceiro maior arsenal nuclear do mundo (em outras palavras garantem que as regiões com tensões separatistas se mantivessem vinculadas à Ucrânia). Cabe destacar que a maioria da população da Crimeia é etnicamente russa e utilizam o russo como idioma nativo. 


O início da crise

Em novembro de 2013, o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych anunciou em comunicado oficial que havia desistido de assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia, preferindo priorizar suas relações com a Rússia. No dia 21 do mesmo mês, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a decisão, o que resultou em repressão violenta e dezenas de manifestantes mortos. Yanukovich fugiu da capital Kiev e foi afastado da presidência, sendo constituído um governo interino. 

Na Crimeia, que tem a maioria de sua população etnicamente russa (favorável a uma aproximação com a Rússia), o parlamento local foi tomado, aprovando a independência da região e a posterior anexação à Federação Russa. 

A Ucrânia não considera legítimo o governo da Crimeia e conta com o apoio de União Europeia e dos EUA. Por outro lado, os russos aproveitam a oportunidade (ou desespero) para mostrar sua força, aprovando no Parlamento russo a ajuda, inclusive, com o envio de tropas para a região da Crimeia. 

Como forma de retaliação os EUA e a União Europeia anunciaram pacotes bilionários de ajuda à Ucrânia, aprovaram sanções econômicas à Rússia (em especial ao gás russo, uma vez que 80% são exportados para a Europa), além da expulsão da Rússia do grupo do G-8.

Para aumentar a tensão no dia 16 de março de 2014 foi realizado um referendo popular na Crimeia com 95% dos votos sendo favoráveis pela separação da península em relação à Ucrânia e anexação ao território russo. É claro que existem suspeitas de manipulação do referendo, além de EUA e União Europeia não reconhecerem a validade dessa votação popular.

Mesmo a contragosto a Ucrânia acaba aceitando a separação da Crimeia, contudo, as províncias de Donetsk e Lugansk, com grande percentual de população russa (mais de 50%) também declaram a sua independência e pedem anexação à Rússia. Com a não aceitação da Ucrânia tem-se o agravamento dos conflitos armados na região.

Se a Rússia conseguir transformar províncias como Donetsk e Lugansk em enclaves autônomos pró Rússia ela consegue “congelar” o conflito e dificultar o ingresso da Ucrânia na UE e OTAN.


Interesses Russos em relação à Crimeia e a Ucrânia

A Ucrânia representa para a Rússia um escudo para o avanço da OTAN, que pode montar bases militares nos países membros. A aproximação da Ucrânia com a Europa Ocidental é visto como a primeira etapa para sua incorporação a OTAN. Ao mesmo tempo a Rússia perde um importante aliado militar e econômico (os gasodutos que transportam o gás russo cortam o território ucraniano). 


A Crimeia esta ser localizada às margens do Mar Negro – único porto de águas quentes da Rússia, que dá acesso ao Mediterrâneo. 

Os portos da Crimeia também escoam a produção agrícola da Ucrânia e servem de pontos de exportação, para a Europa, do gás natural russo. 

A Crimeia também é uma grande produtora de grãos e vinhos, com forte atuação na produção alimentícia. 

Está na Crimeia a importante base naval russa de Sebastopol. 

Fortalecimento da Rússia

Para resgatar o papel de liderança da Rússia e fazer frente à União Europeia e ao EUA a Rússia criou em 2015 a União Euroasiática (UEEA), que busca a cooperação militar e de relações econômicas privilegiadas, como a livre circulação de mercadorias e serviços. 

Trata-se de uma reaproximação das antigas repúblicas soviéticas, um contraponto a influencia ocidental. Contudo, até o momento a Rússia conta apenas com a adesão de Belarus, Armênia, Cazaquistão e com as prováveis adesões de Quirquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão. O que enfraquece a UEEA é exatamente a ausência da Ucrânia, segunda maior economia da região.

Ao mesmo tempo, os russos procuram novos parceiros comerciais, em especial a China (maior consumidor de energia do mundo) e a Índia. 

Assinaram contratos com a Índia para a construção de 12 reatores nucleares (a Índia busca a redução da queima de carvão mineral). 

Estabeleceram contratos com a China em 2014 de 400 bilhões de dólares em 30 anos, para a exploração de gás na Sibéria e construção de gasodutos para fazer com que o gás chegue até a China, o que deve transformar o país no maior cliente da Rússia.

Imago História

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