Grandes Navegações (1 de 5) - Rumo às Índias Orientais

Quem descobriu o Brasil? Você certamente já se deparou com essa pergunta, onde normalmente, como resposta, destaca-se a figura dos destemidos navegadores, que se aventuravam em mares desconhecidos, povoados por lendas fantásticas, histórias maravilhosas, monstros, medos, sonhos, ilusões. Viagens incertas, perigosas, e rentáveis. Brincadeira de gente grande. Tratava-se de garantir monopólios, conquistar riquezas, traficar, praticar a predagem em terras distantes, desconhecidas, cobiçadas. Navegadores destemidos, audaciosos, mas ao mesmo tempo caçadores vorazes, predadores, e muitas vezes corsários. Sobretudo aventureiros.

Um desses aventureiros desembarcava na terra que viria a ser o Brasil em 1500, seu nome, Pedro Álvares Cabral. Na busca de uma nova rota para as Índias, onde pretendia potencializar os lucros da coroa portuguesa, a frota de Cabral se deparou com terra firme, e com um povo muito bem assentado nessas terras. Se essa é a rota marítima para o Oriente, e se estamos nas Índias – poderiam ter pensado os aventureiros – esses nativos só podem ser os seus habitantes, os índios (como os rotulou Cristovão Colombo quando desembarcou no norte do continente americano, um pouco antes em 1492). Na precipitação dos navegadores, cometia-se uma das maiores generalizações da história: dali em diante uma infinidade de povos com diferentes formas de viver seriam simplificados, teriam uma única denominação, e na maioria das vezes o mesmo destino: o trabalho forçado.

Mas os tradutores portugueses logo perceberam que se tratava de uma terra muito mais estranha do que poderiam ter imaginado. Rapidamente perceberam que era muito provável que não fosse o Oriente, e que as belas raparigas não fossem naturais das Índias Orientais. Então, nada de especiarias? Nada de lucros fabulosos? Pelo menos nessa escalada na terra dos papagaios não. Mas quem seriam esses nativos que andam despidos e não tem a mínima vergonha? Corpos belos, com tanta vitalidade e pureza; ou como escreveu Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da esquadra de Cabral em 1500, relatando os acontecimentos, a descoberta de novas terras e suas riquezas,

"A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso tem tanta inocência como em mostrar o rosto. (...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha".

Teriam os audaciosos navegadores encontrado enfim o paraíso terrestre? Doravante o paraíso português? Para os povos que viviam em Pindorama*, certamente não. Mas, afinal de contas, por que foram os portugueses os primeiros a tomar posse das novas terras “descobertas”? O que Portugal tinha de tão especial que os tornava pioneiros nessa grande aventura marítima em busca de lucros extraordinários?

Temos abaixo um Mapa do Brasil, de 1519, onde se retrata a nova terra “descoberta”. Pode-se perceber que o ilustrador desenhou inúmeros pássaros, justificando o apelido de terras dos papagaios. Os papagaios, aves desconhecidas pelos portugueses, eram vinculados ao paraíso. Dizia-se que era um sinal de que havia riquezas por perto.

* Pindorama era é o nome utilizado pelos indígenas para se referir às regiões que mais tarde formariam o Brasil. Em tupi-guarani pindó-rama significa terra/lugar das palmeiras.

 Brasil, 1565, Giovanni Ramúsio

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