Historiadores estudam o passado não para poder repeti-lo, e sim para poder se libertar dele.
Cada um de nós e todos nós nascemos numa determinada realidade histórica, governada por normas e valores específicos e conduzida por um sistema econômico e político ímpar. Vemos essa realidade como fato consumado e a achamos natural, inevitável e imutável. Esquecemos que nosso mundo foi criado numa cadeia de eventos acidental e que a história configurou não apenas a tecnologia, a política e a sociedade, mas também nossos pensamentos, temores e sonhos. A mão fria do passado emerge do túmulo de nossos ancestrais, nos agarra pelo pescoço e nos força a olhar na direção de um único futuro. Sentimos essa constrição desde o momento em que nascemos, e assim presumimos que ela é parte natural e inescapável do que somos. Portanto, raramente tentamos nos livrar dela para antever futuros alternativos.
O estudo da história tem o objetivo de nos livrar dessa submissão ao passado. Ele nos permite voltar a cabeça para mais de uma direção e começar a perceber possibilidades inimagináveis para nossos antepassados. Ao observar a cadeia acidental de eventos que nos trouxe até aqui, nos damos conta de como nossos pensamentos e sonhos ganharam forma — e podemos começar a pensar e sonhar de modo diferente. O estudo da história não dirá qual deve ser nossa escolha, mas ao menos nos dará mais opções.
Movimentos que buscam mudar o mundo frequentemente começam com a reescrita da história, permitindo reimaginar o futuro. Se você quer que trabalhadores façam uma greve geral, que as mulheres assumam que são donas do próprio corpo ou que minorias oprimidas exijam direitos políticos — o primeiro passo é recontar sua história. A nova história vai explicar que “nossa situação atual não é nem natural nem eterna. As coisas uma vez já foram diferentes. O mundo injusto que conhecemos hoje foi criado apenas por uma série de eventos ocasionais. Se agirmos com sabedoria, poderemos mudar este mundo e criar um muito melhor”. É por isso que marxistas recontam a história do capitalismo, que feministas estudam a formação das sociedades patriarcais e que afro-americanos rememoram os horrores do tráfico negreiro. O objetivo não é perpetuar o passado, e sim libertar-se dele.
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