Música degenerada
A criação do que os nazistas consideravam uma cultura musical alemã verdadeira também envolveu a eliminação de influências culturais estrangeiras como o jazz, que julgavam fruto de uma cultura racialmente inferior, a dos afroamericanos. A linguagem racista, que era a segunda natureza do nazismo, assumia uma característica particularmente ofensiva e agressiva nesse contexto. Os compositores nazistas condenavam a “música dos negros” como sexualmente provocante, imoral, primitiva, bárbara, não alemã e completamente subversiva. Ela confirmava a visão nazista corrente sobre a degeneração americana, embora alguns escritores, de modo diplomático, preferissem enfatizar suas origens na África. Os tons sincopados do saxofone, recentemente popularizado, também receberam críticas, embora, quando as vendas do instrumento começaram a despencar como consequência disso, os fabricantes alemães tenham retrucado tentando alegar que o inventor Adolphe Sax era alemão (de fato, era belga) e salientando que o venerado compositor alemão Richard Strauss o havia usado em algumas composições. A proeminência de compositores judeus como Irving Berlin e George Gershwin no mundo do jazz acrescentava mais uma camada de opróbrio racial no que dizia respeito aos nazistas.
Claro que muitos músicos de jazz, swing e bandas de baile da Alemanha eram estrangeiros e deixaram o país no clima hostil de 1933. Contudo, mesmo com toda a violência da polêmica nazista, o jazz mostrou-se quase impossível de definir, e com umas poucas mudanças rítmicas e uma conduta conformista adequada por parte dos músicos, mostrou-se bem possível para os músicos de jazz e swing continuarem tocando nos inúmeros clubes, bares, salões de baile e hotéis da Alemanha ao longo da década de 1930. Os leões de chácara das casas noturnas badaladas de Berlim, como Roxy, Uhu, Kakadu ou Ciro, barravam a entrada dos invariavelmente malvestidos espiões mandados pelos nazistas, garantindo que a clientela chique continuasse a gingar ao som do mais recente jazz e pseudojazz lá dentro. Se um espião conseguia entrar, o porteiro simplesmente soava uma campainha secreta e os músicos rapidamente trocavam a música antes que ele chegasse à pista de dança.
(Evans, Richard J. A chegada do Terceiro Reich / – São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2010)
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