A Era Vargas (3 de 5) - O Governo Democrático - 1934-37

Nesta fase temos uma polarização política, em especial com os integralistas e a Aliança Nacional Libertadora.


O Integralismo ou Ação Integralista Brasileira (AIB)

O Integralismo, ou mais especificamente a Ação Integralista Brasileira foi um movimento que desempenhou papel importante no contexto da década de 1930. Pra entender o Integralismo, devemos compreender o que estava acontecendo na década de 1920 e 1930. Na Europa, destruída pela guerra havia o crescimento dos nacionalismos, em alguns casos convertendo-se em regimes totalitários, como no caso do nazismo e do fascismo. No Brasil, temos a crise da hegemonia das oligarquias cafeeiras e a redefinição das relações de poder, com o golpe de 1930. E nesse momento que surge o Integralismo como um projeto político e ideológico para a construção de um "novo Brasil".

A AIB funcionou oficialmente de 1932 a 1938 e chegou a ter entre 500 e 800 mil aderentes. Pregava a ideia do “Estado Integral”, que seria a soma dos esforços de todos em prol da nação. O Estado aparece como uma grande família e todos deveriam colaborar para a moralização e o progresso dessa família. Entre as ideias defendidas pelos integralistas, podemos destacar:

  • Unipartidarismo. 
  • Culto a personalidade e infabilidade do líder. 
  • Nacionalismo.
  • Estatização dos meios de comunicação. 
  • Combate ao liberalismo e ao comunismo. 
  • Adoção dos valores da Igreja.
  • Hierarquização social. 
  • Violência como estratégia política. 
  • Crítica à democracia liberal, e às discussões partidárias. 

Os integralistas ficaram conhecidos por sua disciplina e pela utilização de muitos símbolos que se assemelham muito aos regimes totalitários. Tratava-se da utilização da propaganda e da imagem como arma política. Como principal símbolo eles utilizavam a letra grega Σ (sigma) que indicava a soma dos infinitamente pequenos. A saudação, com o braço esticado e mão espalmada virada para baixo, era acompanhada pelo grito de “Anauê” – um grito de guerra na língua tupi-guarani, que significa algo como “você é meu irmão”. 

Os integralistas apresentavam-se uniformizados (obtiveram para tanto permissão do exército), com camisas e capacetes verde-oliva, o que fez com que ficassem conhecidos como camisas-verdes – e em outra abordagem - dos opositores - galinhas-verdes. Extremamente organizados e disciplinados, desfilavam pelas ruas, com a participação das mulheres e crianças, ostentando estandartes e bandeiras em marchas coreografadas, entoando canções e hinos nacionalistas.

De uma forma geral o integralismo era dirigido aos extratos médios urbanos, que durante a década de 1930 ansiavam por representatividade, contudo, muitos simpatizantes de vários extratos sociais aderiram aos aspectos autoritários da AIB, entre eles Getúlio Vargas que apoiou o movimento desde o seu surgimento. 





Aliança Nacional Libertadora (ANL) e a Intentona Comunista de 1935

Resposta ao crescimento dos fascismos na Europa e do Integralismo no Brasil, setores da sociedade brasileira irão se organizar na Aliança Nacional Libertadora, defendendo, sobretudo, as liberdades democráticas, a reforma agrária e a melhoria de vida para os trabalhadores rurais, além do combate em relação à influência do capital estrangeiro.

O clima de rivalidade entre Integralistas e a ANL era evidente, levando, inclusive, a inúmeros conflitos. Era até imaginável que acabariam sendo acusados de tentar implantar um regime comunista no Brasil. Cabe destacar, porém, que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) relutou em aderir à ANL, sendo que isso somente aconteceu um mês antes de seu fechamento por Vargas. Aliás, o motivo para colocar a ANL na ilegalidade acabou surgindo a partir do momento em que Luiz Carlos Prestes proclamou o seu apoio à organização, onde defendia o “assalto ao poder pelas grandes massas”. 

Prestes seria ainda o protagonista de uma insurreição que tentaria derrubar o governo pela força deflagrando uma revolução comunista no Brasil. 

O "cavaleiro da esperança", que havia buscado apoio dos soviéticos para o planejamento da ação, subestimava a capacidade do governo e superestimava a capacidade do PCB e da população em aderir ao movimento, e acreditava, de fato, que era viável a tomada de poder pelos comunistas. 

Quando ficou sabendo que revoltas haviam eclodido em Natal e no Recife, achou que era o momento propício para desencadear o processo revolucionário. Os comunistas, sob ordens de Prestes tentaram tomar uma instalação militar na Praia Vermelha, no bairro da Urca, mas foram facilmente vencidos pelas tropas leais ao governo. Após a tentativa de ação militar, ocorreu a dura repressão do governo, que caçou os comunistas que haviam participado da ação.

Prestes e sua esposa Olga Benário – que havia sido mandada pelos soviéticos para auxiliar a ação comunista no Brasil – acabaram presos. Prestes acabou na cadeia por vários anos. Olga teve um destino muito mais dramático. Alemã, judia, comunista e considerada traidora na Alemanha, mesmo grávida, acabou sendo extraditada para acabar morrendo nos campos de concentração. Anita Prestes, filha de Olga e Luiz Carlos Prestes conseguiu sobreviver depois de uma grande mobilização internacional de sua avó paterna. 

Em suma, podemos dizer que a ação de Prestes teve como resultados:

· Violenta repressão aos movimentos de esquerda, com centenas de prisões, torturas e mortes.

· Perseguição e desmobilização do movimento sindical independente e de esquerda.

· Fim do Partido Comunista.

· Disseminação do “medo dos comunistas”, que poderiam tomar o poder no Brasil a "qualquer momento".

· Crescente antipatia nas forças armadas em relação aos comunistas.

· Aprovação no Congresso Nacional de medidas que fortaleciam o poder de Vargas, como, por exemplo, a censura aos meios de comunicação e o Tribunal de Segurança Nacional, para julgar crimes políticos. 

O poder pessoal de Vargas estava extremamente fortalecido: com o apoio das Forças Armadas e das elites e prestigiado pelas massas populares e parte da intelectualidade brasileira era uma questão de tempo para Vargas ousar centralizar o poder em suas mãos.



O Plano Cohen

Com um mandato de quatro anos, Vargas deveria sair do poder em 1938. Contudo, pouco disposto a deixar o poder, em 1937 Vargas e seus aliados passam a articular sua permanência, acusando os comunistas de planejarem a destruição da democracia no país. A suposta ameaça comunista ficou conhecida como Plano Cohen. De acordo com o plano (supostamente descoberto), os comunistas incendiariam igrejas, acabariam com a instituição familiar no Brasil e assassinariam o presidente da República. O plano não existia, fazia parte da estratégia de Getúlio. Mas o argumento passou a justificar os meios, e para combater a “ameaça comunista” – e em meio à conjuntura internacional – Getúlio fechou o Congresso Nacional e impôs ao país uma constituição que lhe dava grandes poderes. 

A AIB apoio Vargas no Golpe de 1937, mas logo após a criação do Estado Novo, Vargas decretou o fechamento de todos os partidos políticos nacionais, inclusive da AIB. Como retaliação um grupo de 80 integralistas atacaram a sede do Governo Federal como intento de matar Vargas. Por muito pouco não conseguiram, impedidos pelo exército. Contido a ataque ocorreu à retaliação: inúmeros revoltosos foram fuzilados e em torno de 1500 integralistas foram presos. O líder do movimento, Plínio Salgado acabou exilado em Portugal. 

Vargas, depois de governar o Brasil provisoriamente e através de um mandato democrático, tornava-se enfim um ditador, tendo poder suficiente para tentar colocar em prática o seu “projeto” para o Brasil.




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