Política de Boa Vizinhança


Como o próprio nome indica, a Política de Boa Vizinhança diz respeito a uma redefinição das relações entre Estados Unidos e a América Latina, que tem como resultado a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra Mundial; uma alteração da política isolacionista e militarista, para uma aproximação em termos ideológicos e culturais. Para que possamos entender as implicações dessa política, devemos nos remeter ao contexto nacional e mundial da década de 1930.


Nesse período a Europa – em especial a Alemanha – e os americanos apresentam dois modelos culturais e ideológicos distintos. Os EUA propagam a chamada cultura de massas, que através da ideia de “progresso” procurava disseminar o modelo circular em torno da idéia de trabalhar, produzir, ganhar dinheiro e consumir. Neste caso, a “paz social” seria alcançada por meio do consumo generalizado. Ao lado desses princípios procuravam disseminar as idéias da democracia americana, principalmente a liberdade e os direitos individuais. 

Contudo, no decurso da década de 1930 o Brasil iria assistir à centralização do poder no Estado Novo de Getúlio Vargas, muito mais alinhado em alguns aspectos com os regimes ditatóriais da Europa. Nesse sentido, muitos militares brasileiros tinham uma identificação muito grande com o modelo militar alemão. A Alemanha parecia imbatível, e o estado alemão voltado para o militarismo parecia formar homens suficientemente fortes para combates o estilo de vida americano e sua ênfase desenfreada no consumo. 

É nesse contexto que os Estados Unidos criarão mecanismos para cooptar ideológica e economicamente a América Latina. Ações que se constituíssem enquanto uma alternativa ao modelo alemão e ao mesmo tempo mantivessem o continente como parte de seu mercado consumidor. 

Como estratégia os Estados Unidos procuraram uma aproximação, e uma boa forma de conseguir isso era através da propaganda, procurando difundir uma imagem positiva dos EUA e de suas empreses, como forma de contra-atacar a propagando dos países nazi-fascistas e ao mesmo tempo apresentar uma boa imagem do Brasil à população americana. Foi em 1942, por exemplo, que a Coca-cola e a Kibon chegam ao Brasil. 

Outra ótima estratégia era a utilização do cinema e do rádio como forma de divulgação de um modo de vida americano. No caso do cinema, as produções americanas adentraram o território nacional abundantemente. Por outro lado, foram feitos documentários no Brasil que eram apresentados nos EUA, mostrando, inclusive, o Brasil como uma peça importante no esforço da guerra, na medida em que era um importante fornecedor de minérios. 

É nesse contexto que é criado por Wald Disney o personagem Zé Carioca. É nesse momento, também, que Carmem Miranda alcança grande sucesso nos EUA, simbolizando e de certa forma antecedendo os símbolos tropicais que seriam utilizados mais tarde pelo movimento tropicalista. Carmem simbolizava o papel “feminino” da América Latina em sua relação com os EUA. Carmem chegou a ser a mulher mais bem paga dos EUA, criticada e ao mesmo tempo amada como grande símbolo da americanização do Brasil. 




No caso do rádio, é interessante notar que havia um grande número de imigrantes italianos e alemães no Brasil, e para esse público existiam emissoras alemãs e italianas com programações específicas; era necessário, portanto, combater essa propaganda. 

No campo econômico os EUA foram obrigados a aceitar a barganha de alguns países, na caso brasileiro a conceder os estímulos necessários para a construção da CSN, e no caso mexicano, aceitar a nacionalização do petróleo mexicano. 

Por fim, os EUA, na fragilizada década de 1930, marcada pelos efeitos nocivos da Grande Depressão, viu-se na necessidade de mudar a sua política em relação à América Latina – e ao mundo como um todo – procurando uma aproximação em termos colaboracionistas. Em meio à ascensão dos regimes totalitários, viu-se na iminência de combater os atrativos desses países, mas ao fazer isso, os norte-americanos lançaram as bases para uma exploração econômica no mundo pacificado, que longe da ameaça nazista e em vista de um novo contexto trará conseqüências para a América Latina, muitas delas funestas.




Imago História

Um comentário:

  1. Ótima publicação!
    Inclusive, contém informações a respeito da época a qual eu não tinha conhecimento.
    Adorei!

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