Período Democrático - (2 de 5) Vargas

Eis que chegamos à eleição de 1950, e Vargas, apoiado por setores sindicais e trabalhistas e, defendendo a volta do nacionalismo na economia, a ampliação da industrialização e a intensificação das conquistas trabalhistas, e não obstante munido de seu carisma e populismo carregado de forte apelo emocional é democraticamente eleito presidente. A sua previsão se cumprira, e Vargas, mesmo sem o apoio dos meios de comunicação, voltava a ocupar o principal lugar na cena política brasileira.

Contudo, Vargas não tinha o mesmo contexto favorável da década de 1930, e, desde o início de sua campanha sofria forte oposição dos setores udenistas (União Democrática Nacional, de caráter liberal e principal oposição à Vargas), e em especial de Carlos Lacerda. Mesmo antes de assumir o poder, Vargas já sentiria a oposição da UDN, que tentava impedir que ele assumisse o poder alegando que não havia obtido a maioria absoluta dos votos (mais de 50%), argumento que não foi aceito pela Justiça Eleitoral.

A oposição aglutinava-se em torno da questão do alinhamento com os Estados Unidos e da política econômica. Os udenistas, ou como eram chamados pejorativamente “entreguistas” eram contra a intervenção do estado na economia, como, por exemplo, na tentativa de Vargas controlar as remessas de lucros das companhias estrangeiras.

A oposição se tornou mais ácida quando dos debates em torno da questão do petróleo. Vargas argumentava que o Brasil deveria ter uma indústria própria, e deram início à campanha “O Petróleo é nosso”. A oposição dizia que a exploração deveria ser feita por empresas estrangeiras, notadamente, americanas. Os nacionalistas ganhariam, e em 1953 era criada a Petrobras. Em outras questões, porém, como a remessa de lucros para o exterior os “entreguistas” teriam maior êxito.

Mesmo com o apelo populista e com uma grande aceitação entre os trabalhadores, o governo Vargas será marcado por inúmeras greves, uma vez que o alto custo de vida e a inflação em torno de 50% ao ano corroíam o salário dos trabalhadores. Esse movimento ficou conhecido como greve dos 300 mil.

Em meio às turbulências, no ano de 1953 Vargas nomeia para o cargo de ministro do trabalho o também gaúcho João Goulart (ou Jango). Com muita habilidade Goulart consegue negociar com os sindicatos e propõem um reajuste do salário mínimo de 100%.  Tal proposta foi condenada pela UDN e por parte dos setores militares, e sob pressão Getúlio foi obrigado a demitir Goulart. Mesmo assim, em 1 de maio de 1954 Vargas autoriza o aumento prometido. O que é importante constatar é a tensão entre Vargas e os setores oposicionistas, que liderados por Lacerda ameaçavam crescentemente a estabilidade política.

Contestado de certa forma pelos trabalhadores que enchiam as ruas; sem o apoio das elites e classes médias; abertamente criticado pelo governo dos EUA, que eram contra a autonomia brasileira, em especial na questão da criação da Petrobras, fazendo, inclusive, campanhas contra a importação do açúcar brasileiro; e ainda, perdendo crescentemente o apoio dos setores militares, Vargas se via cada vez mais em um beco sem saída. Se não bastasse isso, tinha que suportar a forte oposição da UDN e de Lacerda, que conseguia mobilizar a mídia em uma grande campanha difamatória, onde Vargas era acusado de corrupção e de sórdidas ligações com os comunistas.

Em 5 de agosto de 1954 ter-se-ia o fato que precipitaria a queda de Vargas. Lacerda foi vítima de um atentado, onde sobreviveu, mas seu acompanhante, um major da Aeronáutica acabou morrendo. Em investigação paralela promovida pela própria Aeronáutica, concluiu-se que Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio era o mandante do crime. A UDN e Lacerda imediatamente acusaram Vargas de ser o mandante do crime. Nos dias seguintes a UDN faria forte campanha exigindo que os generais derrubassem Vargas. Nos dias 22 e 23 de agosto os militares, por fim, dariam o ultimato a Getúlio exigindo sua renúncia.

Pressionado e sem ter como reagir Getúlio cometeu o suicídio, deixando uma carta-testamento para o povo. Trata-se de um dos mais importantes documentos da história recente do Brasil, que explicita os ideais do nacionalismo econômico e do populismo. Não obstante, a morte de Vargas (24 de agosto) traria grande comoção nacional. Uma multidão tomou as ruas, a embaixada americana foi atacada e com medo das manifestações populares, os opositores de Vargas fugiram do país, inclusive, Carlos Lacerda.

Por outro lado, o suicídio de Vargas alterou drasticamente a situação e a imagem negativa que o seu governo tinha naquele momento, preservando a popularidade dos políticos trabalhistas alinhados com Vargas e, muito provavelmente, suspendendo uma possibilidade de golpe militar, que acabaria se concretizando apenas em 1964. Ainda, a morte de Vargas – percebida em conjunto com grande comoção popular – facilitaria a candidatura e eleição em 1955 de Juscelino Kubitschek.  

Na cartoon abaixo, publicada por J.Carlos em 1950 temos uma refência clara a sinuosa trajetória política de Vargas, alterando governos democráticos e períodos autoritários. Na sequência, a cartoon de 1954 se refere ao período final do governo Vargas e a intensa pressão para que deixasse o poder.



QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS PERMITEM
- Moço, moço, este bonde passa na rua da Constituição?
- Às vezes.


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