"Estima-se que, em 1420, no início das navegações portuguesas na costa da África, houvesse 450 milhões de pessoas em todo o planeta. Desse total, 50 milhões, ou 11%, estariam na América. Quatro séculos mais tarde, em 1804, quando a população mundial havia dobrado para 900 milhões de habitantes, no continente americano — a essa altura já alimentado pela maciça importação de escravos africanos —, havia apenas 25 milhões de pessoas, ou seja, a metade do número anterior à presença europeia. Em escala proporcional, a queda havia sido ainda mais drástica, de 11% para minguados 2,8% do total. O grande massacre ocorrera no intervalo de apenas cem anos. Em 1600, a população nativa americana reduzia-se a somente 10 milhões. Quarenta milhões de seres humanos tinham desaparecido do continente desde que a esquadra de Colombo chegara ao Caribe, em 1492. Nas áreas pré-colombianas mais densamente habitadas, caso dos territórios astecas do México e incas do Peru, quase a totalidade da população fora varrida do mapa". (GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares)
Mas de que forma os europeus conseguiram dominar e subjugar uma população tão grande? Entre os principais mecanismos utilizados pelos espanhóis pode-se destacar:
A superioridade bélica
As armas (como os canhões, pistolas, espadas, escudos e armaduras) eram superiores as armas utilizadas pelas populações locais, normalmente feitas de madeira, como as flechas as lanças e os tacapes. Os estrondos das armas de fogo dos espanhóis transformavam-se em trovões aos ouvidos dos mexicas, por exemplo, algo até então nunca visto por eles.
Outro elemento que favoreceu os europeus era a utilização de cavalos. Até então desconhecido dos povos do continente americano, os cavalos europeus causavam verdadeiro espanto e fascinação. Em campo aberto garantiam aos europeus grande mobilidade, além de causar perplexidade entre os ameríndios, que ficavam mais preocupados em tentar abater o animal do que s cavaleiro.
Há de se destacar, contudo, que a superioridade bélica pode ser relativa em se tratando do local dos enfrentamentos, onde um cavalo pode se tornar insignificante, ou mesmo, o tempo de preparo para um disparo com arma de fogo pode parecer uma eternidade se comparado com o lançamento de flechas envenenadas.
O que de fato contou no campo bélico foi o entendimento de que era imprescindível a formação de alianças com os povos locais, como no caso de Hernán Cortés. Foram essas alianças que garantiram a Cortés combatentes em número suficiente para que pudessem avançar em direção a Tenochtitlán.
A legitimidade religiosa
Se a Reforma Religiosa sacudiu a religião dominante na Europa dando vazão às guerras de religião e fazendo com que o catolicismo perdesse um grande número de adeptos, com a conquista do Novo Mundo, surgia a possibilidade da conversão de milhões de indígenas ao catolicismo.
Assim a religião servirá ao mesmo tempo como justificativa: a salvação dos indígenas, tirando-os de seus "hábitos selvagens". Nesse sentido, os europeus eram responsáveis por levar a civilização e a verdadeira religião aos infiéis. Por outro lado, a religião foi usada como um instrumento de dominação, com a utilização da catequese – recentemente introduzida com o Concílio de Trento – e a desestruturação do mundo psíquico dos indígenas. A respeito dessa questão, observe a justificativa do cronista Francisco Lopes de Gómora:
“Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens e a liberdade dos indígenas: e sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis, que os tornaram cristãos (...). Ensinaram-lhes latim e ciências, que valem mais do que toda a prata e todo o ouro que eles tomaram. Porque, com conhecimentos, são verdadeiros homens, e da prata nem todos tiravam muito proveito”.
A desestruturação das formas de trabalho
Com a gradativa dominação dos povos indígenas os espanhóis ocasionaram uma desestruturação nas atividades de subsistências. Na medida em que deslocavam milhares de habitantes para a exploração das riquezas minerais os espanhóis comprometiam a produção de alimentos, levando populações inteiras a perecerem de fome.
O choque biológico
Os espanhóis trouxeram consigo inúmeras doenças, como a varíola e o sarampo. Essas doenças proliferaram com muita rapidez e encontravam povos que não tinham nenhuma imunidade. Esse choque biológico foi responsável por milhares de mortes no Novo Mundo.
Com a gradativa dominação dos povos indígenas os espanhóis ocasionaram uma desestruturação nas atividades de subsistências. Na medida em que deslocavam milhares de habitantes para a exploração das riquezas minerais os espanhóis comprometiam a produção de alimentos, levando populações inteiras a perecerem de fome.
O choque biológico
Os espanhóis trouxeram consigo inúmeras doenças, como a varíola e o sarampo. Essas doenças proliferaram com muita rapidez e encontravam povos que não tinham nenhuma imunidade. Esse choque biológico foi responsável por milhares de mortes no Novo Mundo.
"Em setembro de 1520 a peste tinha alcançado o vale do México e, em outubro, atravessou os portões da capital asteca, Tenochtitlán — uma magnífica metrópole com 250 mil habitantes. Em dois meses pelo menos um terço da população havia perecido, inclusive o imperador asteca Cuitláhuac. Em março de 1520, quando a esquadra espanhola chegou, o México abrigava 22 milhões de pessoas; em dezembro do mesmo ano apenas 14 milhões ainda estavam vivas. A varíola foi apenas o primeiro golpe. Enquanto os novos senhores espanhóis estavam ocupados enriquecendo e explorando os nativos, ondas letais de gripe, sarampo e outras doenças infecciosas, uma após a outra, varreram o país, até que em 1580 sua população fora reduzida a menos de 2 milhões de pessoas". (HARARI,Yuval Noah. Homo Deus.)
Abaixo algumas ilustrações de Bartolomé de las Casas, frade e defensor da presença da Igreja na tutela dos nativos americanos. Las Casas foi responsável pela publicação de obras onde denunciava de forma contundente a violência e os abusos cometidos pelos espanhóis na América. As imagens abaixo retratam essa violência e, é claro, tem a função de sensibilizar os europeus em relação as arbitrariedades desmedidas cometidas no Novo Mundo.
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