A medicina popular ganha adeptos apaixonados, que discorrem sobre as propriedades do alho, cebola, canela, folhas de eucalipto e, sobretudo, do limão. Os jornais se enchem de anúncios de remédios que antes serviam apenas contra constipação e dor de dente, mas que pretendem curar a gripe espanhola. Um fabricante de cigarros anuncia: "Nada de pânico, fume Sudam!". Charlatões vendem suas alquimias, amuletos e feitiços.
Quem permanece imune tranca-se em casa, não recebe amigos nem parentes. Fecham-se bares, cinemas, teatros. Os guardas são aconselhados a evitar apertos de mãos, limitando-se à continência. Abraços e beijos são considerados quase que atos de traição. Gente gripada tentava o suicídio ou matava o mais próximo. Doentes saltavam das janelas de suas casas ou dos hospitais.
Em poucos dias, 11.762 covas foram abertas e 8.040 utilizadas. Os cemitérios do Araçá, Brás, Consolação e Penha ganharam iluminação noturna e o número de coveiros foi quadruplicado para dar conta da demanda. O preconceito contra os pobres também aflorava: o bairro do Brás, por ser o mais populoso e habitado por operários, foi tido pelas autoridades e jornais como o mais sujeito à propagação do mal.
A pandemia caracterizou-se mundialmente pela elevada mortalidade, especialmente nos sectores jovens da população. Calcula-se que afetou 50% da população mundial, tendo matado entre 20 e 40 milhões de pessoas, pelo que foi qualificada como o mais grave conflito epidêmico de todos os tempos. A falta de estatísticas confiáveis, principalmente no Oriente (como na China e na Índia) pode ocultar um número ainda maior de vítimas. No Brasil foram registradas em torno de 300 mil mortes relacionadas a epidemia. A doença foi tão severa que vitimou até o Presidente da República, Rodrigues Alves, em 1919. Só em São Paulo a gripe espanhola matou mais de 5000 paulistanos.
Acima um trocadilho, onde o autor ressalta o grande a facilidade com que a gripe se disseminava no Brasil.
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