Revolução Russa (1 de 6) : A Rússia pré-revolucionária


Para entendermos a Revolução Russa, devemos analisar, mesmo que brevemente, a estrutura da sociedade russa no final do século XIX e início do XX. Nessa virada de século a Rússia já possuía uma população de cerca de 170 milhões de habitantes, composta por povos de diferentes origens e religiões, estabelecidas em um vasto território, que compreendia parte da Europa e Ásia. 


O poder na Rússia era centralizado nas mãos do czar Nicolau II (o termo se origina da palavra caesar, ou seja, imperador), que era apoiado por uma burocracia, por setores militares associados à aristocracia e pela igreja ortodoxa, que em contrapartida recebia benefícios do regime czarista. 


Os czares acreditavam-se reis pela vontade de Deus, e nenhum poder os limitava. Mais que um monarca, os czares governaram a Rússia através de uma autocracia, com o poder muito centralizado, proibindo qualquer tipo de associação política ou parlamento e utilizando a sua polícia política (Okhrana) para perseguir os opositores. 


Se de um lado havia setores privilegiados, que davam a sustentabilidade para o czar russo, por outro, a maioria da população levava uma vida dura, mostrando um enorme contraste social existente na Rússia. Mesmo com o fim da servidão em 1861  a situação dos camponeses não melhorou na medida em que foram obrigados a pagar indemnizações à nobreza territorial para compensar a sua perda de mão-de-obra.


A abolição da servidão não aliviou a tensão no campo, uma vez que o problema da distribuição da terra para a população mais pobre não foi resolvido. Ao mesmo tempo, ocasionou um significativo êxodo rural, que contribuiu significativamente para o processo de industrialização russa do final do século XIX. Essas pessoas tornar-se-iam um exército de reserva para as indústrias que estavam surgindo nas principais cidades russas.


Efetivada com capital estrangeiro, o processo de industrialização na Rússia aconteceu de forma incipiente e de sobressalto: de pequenas manufaturas às indústrias e projetos industriais gigantescos, como a Transiberiana, uma das maiores ferrovias do mundo. 


O fato é que a introdução das ideias capitalistas fomentou uma grande exploração dos trabalhadores russos, que da dureza dos trabalhos servis no campo russo passaram a uma condição nada melhor nas indústrias ou minas. Há de lembrar, que diferentemente de outros países da Europa, onde por meio de lutas, os trabalhadores já haviam conseguido alguns benefícios, na Rússia a situação do proletariado era extremamente difícil, com longas jornadas de trabalho e salários miseráveis.


O processo de industrialização russa do final do século XIX e início do XX caracterizaram-se pela concentração da atividade industrial em alguns pólos, como a cidade de São Petersburgo e Moscou. Esse fator fez com que esses pólos industriais tivessem um grande número de trabalhadores, o que acabou facilitando o contato entre os trabalhadores, possibilitando que se disseminassem valores comuns entre eles, e articulando-se assim a mobilização visando melhores condições de vida.


Não à toa terem se formado agrupamentos de inspiração marxista, que se organizaram em partidos políticos. É interessante observar que segundo a teoria marxista, a luta de classes previa que antes dos socialistas tomarem o poder, a sociedade deveria passar por uma revolução burguesa, onde, neste caso, os burgueses nacionais tomariam o poder. O problema é que a burguesia russa não era forte o suficiente, e mostrava-se submetida à aristocracia russa e ao capital estrangeiro, que foi o responsável pelos investimentos na industrialização do país. 


O fato é que as ideias socialistas se espalhavam rapidamente, principalmente entre o proletariado urbano que estava em rápida expansão. Em 1898 foi criado o primeiro partido político baseado em ideias marxistas, o Partido Operário Socialista Democrata Russo (POSDR), que teve como partícipe ninguém menos do que Lênin e Trotski.


As divergências no Partido Operário levaram a uma cisão interna que colocava de um lado os Bolcheviques (maioria) e de outro os Mencheviques (minoria). 


Cinquenta e três dos principais integrantes do Partido Social-Democrata russo – a maioria exilada, encontraram-se no verão de 1903, primeiro em Bruxelas e, depois, em Londres. Houve um conflito entre aqueles que queriam um partido de base mais ampla, com vários membros, e aqueles que queriam uma central pequena profissional e disciplinada. Lênin, que liderava a proposta de uma autoridade central, pequena, bem unida de “pessoas cuja profissão fosse ser revolucionário”, perdeu por uma margem pequena, 28 votos contra 23. Ao fim das reuniões, contudo, sua facção venceu com uma maioria de dois votos a decisão de quem deveria controlar o jornal do partido. Por ser maioria naquela ocasião, e apenas por isso, a facção de Lênin passou a se chamar bolchevique, que significa a maioria. No entanto, a facção rival, chamada menchevique, que significa minoria, ganhou mais tarde o controle do jornal. Bolcheviques e mencheviques se mantiveram juntos, formando um único partido, por outros nove anos e, depois, seguiram caminhos revolucionários distintos.” (Gilbert, Martin. A história do século XX. São Paulo : Planeta, 2016)


As principais diferenças entre as duas facções estavam associadas com a teoria marxista. Os bolcheviques liderados por Lênin queriam a conquista do poder por meio da revolução socialista e a da ditadura do proletariado. Os mencheviques, liderados por Martov, por sua vez, seguiam à risca a teoria marxista e queriam aliar-se à burguesia nacional para promover a revolução burguesa, para numa segunda etapa levar a cabo a revolução socialista na Rússia.



A cartoon acima mostra o czar russo e a Igreja Ortodoxa sendo carregados pelo povo da Rússia, que é extremamente explorado. 

A imagem acima retrata os capitalistas como ladrões gananciosos. 

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Imago História

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