Aos poucos a Tríplice Aliança começou a mostrar sinais de esgotamento, com a rendição da Turquia e do Império Austro-húngaro. No final do ano de 1918 os alemães ainda tentam suplantar as forças aliadas, não conseguiram; seu poderio militar tinha se exaurido. Pressionado externamente e convulsionado internamente (com a pressão dos socialistas alemães) em 9 de novembro, o kaiser Guilherme II renuncia e foge para a Holanda.
Era o fim da guerra, mas não das rivalidades. Em novembro de 1918 é assinado um acordo que coloca fim no conflito, contudo, a pólvora continuava espalhada por toda a Europa, e o estopim seria novamente acionado décadas mais tarde. O balanço trágico da Grande Guerra: oito milhões de soldados e 6,5 milhões de civis mortos e pelo menos 20 milhões de feridos.
Mas como explicar a extensão dos conflitos e tamanha carnificina? A Grande Guerra foi marcada pelo princípio da vitória total, ou seja, o confronto entre as nações imperialistas era permeado pela pretensão a um status global único. As ideias de superioridade levavam as potências a travarem os conflitos até o esgotamento do inimigo.
Contudo, se a guerra foi total, a paz não. O sonho de uma paz onde não houvessem vencidos e vencedores cedeu lugar à imposição de uma paz altamente punitiva. Por meio do Tratado de Versalhes a Alemanha:
Teve seu exército restrito a 100 mil homens, além de ser proibida de manter marinha de guerra, tanques, aviões e artilharia pesada.
Foi obrigada a devolver a Alsácia-Lorena à França.
Foi obrigada a se comprometer com reparações em relação aos vencedores.
Teve suas colônias tomadas, além do retalhamento de seu território, sendo que parte dele foi cedida à Polônia, inclusive uma saída para o mar, que separava a Alemanha da Prússia Oriental (o chamado “corredor polonês”).
“Em Paris, as potências vitoriosas, pressionadas por Woodrow Wilson, criaram a Liga das Nações e, com ela, “territórios mandatados”, nominalmente sob a autoridade da Liga, que foram dados aos vencedores. A França adquiriu a Síria e o Líbano, o Reino Unido adquiriu a Mesopotâmia (Iraque) e a Palestina. Na Palestina oriental, conhecida como Transjordânia, o Reino Unido estabeleceu um governo árabe. Na Palestina ocidental, entre o Mediterrâneo e o rio Jordão, o Reino Unido estava empenhado em criar um “Lar Nacional Judeu”. A Liga das Nações confirmou que os judeus poderiam imigrar para lá “por direito”, deixando para o Reino Unido a tarefa de descobrir uma maneira de satisfazer as aspirações conflitantes de árabes e judeus. O Japão, a Nova Zelândia e a Austrália dividiram entre si os territórios alemães no Pacífico. O império alemão na África também foi distribuído entre os vencedores. O Japão recebeu todas as minas de carvão e as concessões de estradas de ferro da Alemanha na China. A França e o Reino Unido receberam a maioria dos direitos relativos a tratados e concessões comerciais da Alemanha, anteriores a 1914, no Marrocos, Egito, Sião e na Libéria.
(...) Como parte da criação da Polônia, a Alemanha precisou ceder a cidade de Posen – que se tornou Poznan – e a província em seu entorno. Danzig, um porto báltico importante para os alemães antes da guerra, foi transformado em uma “cidade livre” sob o controle da Liga das Nações. As perdas da Alemanha somavam 13% de seu território e 12% de sua população do período anterior à guerra. Mais significativo para o futuro econômico da Alemanha, a perda abrangia 16% de sua produção de carvão e 48% de sua produção de aço anteriores à guerra.
A exploração das minas de carvão na bacia do Saar foi transferida para a França “em total e absoluta possessão”, como compensação pelo fato de os alemães terem destruídos as minas de carvão no norte francês durante a guerra. A Alemanha não poderia construir nem comprar submarinos, tampouco ter uma força aérea. Seu exército foi limitado a 100 mil homens. Entretanto, os alemães se ressentiram mais com o Artigo 231 do tratado, que afirmava “a responsabilidade da Alemanha e de seus aliados em causar todas as perdas e todos os danos a que os Aliados e governos a eles associados assim como seus cidadão foram submetidos em consequência da guerra a eles imposta pela agressão da Alemanha e de seus aliados”.
(...) De acordo com o tratado, todos os navios de guerra da Alemanha teriam de ser entregues aos Aliados. Prevendo isso, o comandante alemão dos navios que estavam há seis meses ancorados em Scapa Flow, na costa norte da Escócia, deu ordens em 21 de junho para que fossem afundados. Em algumas horas, 74 navios de guerra alemães, incluindo quinze dos navios mais poderosos existentes na época, estavam no fundo do mar. No dia seguinte, foi solicitado que os representantes alemães em Paris assinassem o Tratado de Versalhes. Eles indicaram que não assinariam as cláusulas de culpa. Enquanto as negociações avançavam, a notícia sobre a frota alemã afundada chegou aos representantes. Isso fez os Aliados serem mais duros em sua atitude. Não permitiriam nenhuma alteração no tratado e dariam aos alemães apenas 24 horas para assiná-lo. Quando os representantes alemães pediram 48 horas, receberam uma negativa. Lloyd George foi o mais enfático dos líderes aliados a afirmar que 24 horas eram suficientes. Afundar os navios havia sido, segundo ele, “uma violação de confiança”.
Em 28 de junho, quatro horas antes de o prazo dado pelos Aliados expirar, os representantes alemães assinaram o tratado. Eles o fizeram e protestaram “obedecendo a uma força opressora, mas sem com isso abandonar sua visão em relação ao ineditismo da injustiça das condições de paz”.” (Gilbert, Martin. A história do século XX. São Paulo : Planeta, 2016)
Enfim, se a paz tivesse alguma chance, ela efetivamente acabou sendo recusada pelas potências vitoriosas no momento em que optaram em não reintegrarem os vencidos. O Tratado de Versalhes, ou “ditado de Versalhes”, é responsável direto pelo nascimento de um extremo ressentimento e desejo de revanchismo na população alemã. A Primeira Guerra deixava abertas suas chagas.
Entre as principais conseqüências da Primeira Guerra Mundial podemos destacar:
O descrédito dos ideais liberais e democráticos.
Ascensão das paixões e ressentimentos nacionalistas.
Declínio da hegemonia europeia e ascensão dos EUA.
Modificação no equilíbrio europeu, com o fim do Império Austro-Húngaro e o respectivo surgimento da Áustria, da Hungria, da Tchecoslováquia e da Polônia; do Império Otomano que se limitou a região da Turquia, sendo que a Síria passou a ser controlada pela França e a Palestina e o Iraque pelos ingleses. Além disso, temporariamente, o escamotear da Alemanha e Rússia.
Modificação nas territorialidades, principalmente no continente europeu.
Criação da Liga das Nações e simultaneamente o início de uma política isolacionista nos EUA.
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