Primeira Guerra Mundial (3 de 4) - Guerra de Movimento e Guerra de Trincheiras


No dia 4 de agosto de 1914, um milhão e meio de soldados alemães invadem o território belga (Plano Schlieffen, que previa deslocamento de tropas na Frente Ocidental, contra a França e na Frente Oriental, contra a Rússia) com a finalidade de anular as forças francesas que estavam estacionadas na fronteira entre a Bélgica e o território francês. Tratava-se de uma tentativa de avanço rápido e irresistível do exército alemão. Contudo, o auxílio dos ingleses não tardaría a chegar, e, assim, os franceses conseguiram resistir à investida alemã, que chegou a 50 km de Paris.


Trata-se da primeira parte do conflito, conhecida como “guerra de movimento”. Os planos alemães, contudo, tinham sido elaborados a mais de uma década e ainda levavam em conta as mesmas estratégias utilizadas por Napoleão a mais de 100 anos, que previa o rápido deslocamento de tropas.


A tentativa do avanço alemão e o seu respectivo fracasso deixavam claro que uma nova forma de combate começava a se delinear. O avanço tecnológico alcançado nas últimas décadas tornara-se um empecilho para deslocamento das tropas, ou seja, os novos armamentos como a metralhadora, a artilharia, os tanques de guerra, o lança-chamas e a utilização de aviões faziam com que a guerra fosse muito mais mortífera. Já que nos deslocamentos as tropas ficavam desprotegidas, a sobrevivência dos soldados dependia da utilização de trincheiras. 


Entre 1914 e 1915 quase 1000 quilômetros de trincheiras haviam sido escavadas na frente de batalha que opunha os alemães a franceses e ingleses, tratava-se da Frente Ocidental. Nos anos seguintes (entre 1914-17) milhares de soldados conheceriam o inferno nesses buracos. Cada palmo do território inimigo era disputado à custa de milhares de vidas. 


As trincheiras mediam em torno dois metros de altura por 1,80 de largura, tendo ainda sacos de areia e arame farpado como completar a proteção. Os soldados poderiam passar meses entrincheirados, combatendo os inimigos naquilo que muitas vezes se transformou em seus próprios túmulos. Conviviam em péssimas condições de higiene, com infestações de piolhos e ratazanas, doenças e pestilências, racionamentos de água e comida, raros momentos de sono em meio a constantes tiroteios. Muitas vezes, com o ataque inimigo, não poderiam sequer retirar o corpo dos colegas, com os quais eram obrigados a conviver em meio à putrefação dos cadáveres. 


O que era para ser um ataque rápido por parte da Alemanha na frente ocidental transformou-se num impasse. Os beligerantes eram suficientemente fortes para resistir aos horrendos combates. 


Em fevereiro de 1916, disposto a avançar, o exército alemão lançou uma forte ofensiva contra a cidade francesa de Verdun. Na batalha, que durou de fevereiro a dezembro de 1916 e ceifou a vida de 700 mil homens, os franceses conseguiram resistir ao ataque inimigo. A resistência ocorreu por meio de um sistema de rotatividade que visava manter as tropas em condição de combate. Estima-se que 2 milhões de franceses de algum modo passaram por Verdun. O esforço francês no “Inferno de Verdun” foi impressionante, e a cidade tornou-se emblema da resistência francesa, onde se tinha o esforço máximo com o objetivo de repelir os alemães: “Eles não passarão!”. Num confronto onde a artilharia teve papel preponderante, Verdun tornou-se a batalha que produziu a maior quantidade de mortos por metro quadrado na história. Os alemães, que ao longo de 1916 tiveram que recuar, chamavam-lhe de Fleischwolf, “o moedor de carnes”.


Com a situação indefinida na Frente Ocidental as potências trataram de tentar mostrar a sua supremacia no mar. A utilização de submarinos era uma arma importantíssima no corte de abastecimento de alimentos. Foi exatamente a ação dos U-boat alemães que levou ao afundamento de inúmeros navios dos Estados Unidos, inclusive do transatlântico americano Lusitânia, levando os norte-americanos a entrarem na guerra ao lado da Entente. Esta é uma guerra da Alemanha contra todas as nações. Navios americanos têm sido afundados e vidas americanas, tomadas”, justificou o presidente Woodrow Wilson alguns dias antes de anunciar a intervenção americana. 


No dia 21 de março, um petroleiro americano foi afundado por um submarino alemão em uma área particularmente declarada como “zona de segurança” em águas holandesas. Vinte tripulantes americanos foram mortos. O presidente Wilson convocou uma sessão de emergência do Congresso para o dia 2 de abril. Um dia antes da convocação, um navio a vapor americano que dispunha de armas foi torpedeado na costa francesa, e 28 de seus tripulantes se afogaram. “O mundo deve se tornar seguro para a democracia”, Wilson disse ao Congresso no dia 2 de abril. Quatro dias depois, os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha.” (Gilbert, Martin. A história do século XX. São Paulo : Planeta, 2016)


É claro, que por trás da decisão estavam, na verdade, os bilhões de dólares dos poderosos de Wall Street. Uma fortuna havia escoado dos bancos americanos para custear as tropas inglesas e francesas. Os aliados não podiam perder.


Do outro lado da Europa (Frente Oriental), as tropas alemãs lutavam contra as forças russas. Contudo, as derrotas do exército russo que já contabilizavam mais de 4 milhões de mortos, evidenciam as fragilidades do regime, e em 1917, o czar Nicolau II é deposto, instaurando a república. Um pouco mais tarde seria a vez dos bolcheviques tomarem o poder; estava em curso a Revolução Russa, um dos mais significativos episódios do século XX. 


A Rússia, agora socialista, resolve então se retirar da guerra aceitando um acordo imposto pela Alemanha, à chamada paz de Brest-Litovski, onde a Rússia abria mão da Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, Ucrânia e Finlândia. 


Tudo indicava que a situação da Alemanha melhoraria com a saída dos russos, na medida em que o exército alemão poderia concentrar todas as suas forças na frente ocidental, contudo, em 1918 chegavam às primeiras tropas norte-americanas, e em setembro do mesmo ano já somavam mais de 1 milhão de soldados. Decisiva, a entrada dos Estados Unidos anunciava que o fim da guerra se aproximava. 


Por outro lado, a Revolução Russa apressava o processo que encaminhava o fim da guerra. A revolução espalhou o temor de que as ideias socialistas se espalhassem pelos países devastados e tomasse vigor em meio aos exércitos estraçalhados e desanimados. O medo dos motins espalhava-se por todos os exércitos. Era necessário acabar com a guerra, antes que a guerra acabasse na revolução social.


A cartoon abaixo se refere à morte de uma civil. Os alemães aparecem como porcos, selvagens que não respeitam a população civil e cometem as maiores atrocidades imagináveis.



Acima, um soldado francês estrangulando a águia germânica.

O mais conhecido dos cartazes norte-americano de guerra onde é feita a convocação da população para o esforço bélico.

Ingleses e americanos comemorando a vitória da Tríplice Entente

Tem mais sobre a Primeira Guerra Mundial! É só continuar lendo!


Primeira Guerra Mundial (1 de 4) - As principais motivações
Primeira Guerra Mundial (2 de 4) - As Alianças e o assassinato de Francisco Ferdinando
Primeira Guerra Mundial (3 de 4) - Guerra de Movimento e Guerra de Trincheiras; 1917: ano decisivo

Primeira Guerra Mundial (4 de 4) - Guerra Total e Tratado de Versalhes

Imago História

Nenhum comentário:

Postar um comentário