A problemática do corpo sempre chamou a atenção dos filósofos, que na maioria das vezes trataram a questão a partir de dois polos diferentes, ou de um dualismo:
Corpo material
Alma espiritual/consciente
Platão, por exemplo, dizia que a alma antes de encarnar teria vivido num outro mundo, que ele chamou de “mundo das ideias”, onde todas as formas seriam perfeitas. A partir do momento em que a alma se une ao corpo, ela se degrada, ou seja, a alma se torna prisioneira do corpo, e o que ela pode perceber pelos sentidos consiste apenas em formas imperfeitas do que outrora a alma conheceu no mundo das idéias.
Para Platão, a partir do momento em que a alma torna-se prisioneira ela acaba por se dividir em duas:
Alma intelectiva (superior).
Alma do corpo. Essa parte seria irracional, impulsiva (peito) e voltada aos bens materiais e ao apetite sexual (ventre).
Existe para Platão uma contínua luta da alma superior pela inferior, isto é, uma luta contra as paixões e desejos que podem levar a decadência moral. Um exemplo dessa luta seria o duelo entre o amor “físico” e o amor “intelectual”. Há de se destacar, que pra além desse conflito o corpo é extremamente prezado entre os gregos, o que pode ser percebido pela máxima “corpo são, em mente sã”.
Durante a Idade Média o grande poder conferido a Igreja, a instabilidade e uma nova postura em relação ao corpo vão fazer com que ele se torne sinal de pecado. Para os católicos medievais o corpo deve ser purificado por meio do ascetismo, ou seja, por meio do controle dos desejos e das punições infligidas ao próprio corpo (como jejuns ou, flagelos como chicotear o próprio corpo).
Nesse período o corpo, por ser sagrado (“morada da alma”) não pode ser violado, profanado. Acreditava-se que essa era uma condição fundamental para se garantir a vida pós-morte.
A relação do homem com o próprio corpo somente vai começar a sofrer transformações muito gradualmente a partir do século XV, com o Renascimento, onde precursores como Vesálio e Leonardo Da Vinci iniciaram estudos com cadáveres, mudando drasticamente os conhecimentos de anatomia da época. Observe abaixo algumas ilustrações de Vesálio:
Nesse período, muito lentamente o corpo começa a ser dessacralizado, ou seja, retira-se o componente religioso, e passa a se considerar somente a natureza física e biológica.
Com o desenvolvimento de pensamento científico, com os estudos de anatomia, aos poucos vai se desvendando o corpo humano que aparece tal qual um mecanismo. Com a contribuição de filósofos como Descartes, o corpo humano passa a ser considerado a partir da perspectiva homem-máquina. O corpo passa a ser visto como um mecanismo autônomo, regido por leis próprias, ou seja, apesar de dessacralizado, persiste o dualismo entre corpo material (agora mecânico) e a alma espiritual.
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