Estado de bem-estar social

O Estado de bem-estar social vai surgir como uma resposta à depressão econômica que se seguiu à quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, mas ao mesmo tempo representa uma resposta aos movimentos trabalhistas e ao socialismo soviético.

Entendendo o colapso do modelo liberal tradicional.

Durante a Primeira Guerra Mundial e no começo da década de 1920 a economia capitalista norte-americana alcançou uma extraordinária expansão na medida em que os norte-americanos ficaram responsáveis pelo fornecimento de matérias-primas, produtos industrializados, armamentos e alimentos para a Europa. Para ter uma ideia do poderio econômico dos EUA, metade do estoque mundial de ouro estava em suas mãos.

Com a final da guerra, durante boa parte da década de 1920, os Estados Unidos continuaram com sua economia superaquecida, afinal de contas era necessário reconstruir a Europa. As indústrias, estimuladas pela expansão do crediário, produziam bens de consumo, ou os chamados “sonhos de consumo” em ritmo alucinante. Os americanos, por meio do crediário passaram a não apenas sonhar, mas comprar bens sem a certeza de que teriam condições de quitar a divida. 


No final da década de 1920, a economia norte-americana mostrava sinais que a levariam a um grande colapso. A Europa já tinha se recuperado da guerra e como consequência diminuíram drasticamente a importações de produtos americanos.

Ocorreu o aumento dos estoques e com ele uma grande desconfiança em relação ao futuro dessas empresas, levando os indivíduos a retiraram seus investimentos da Bolsa de Valores. Assim, as ações que eram negociadas na Bolsa de Valores, e que estavam inflacionadas com a euforia da década de 1920, simplesmente se esvaíram, ocasionando uma grande desvalorização das ações e a quebradeira geral das empresas e indústrias.

No dia 23/10/1929 em menos de uma hora foram vendidas mais de 2,5 milhões de ações. No dia seguinte, quando as pessoas chegaram para vender suas ações simplesmente não existia mais ninguém disposto a comprar e os preços das ações despencaram. 

Com o efeito da crise pessoas ricas tornaram-se pobres em poucas horas. As empresas passaram a demitir em massas, o número de suicídios aumentou vertiginosamente, a pobreza, o desemprego e a mendigagem explodiu. Para ter uma ideia do efeito desastroso da crise em 1929 existia cerca de 10 milhões de desempregados no mundo, em 1932 o número de desempregados alcançava a impressionante marca de 40 milhões; quase todos os bancos quebraram (mais de 3 mil) com milhões e milhões de pessoas perdendo suas poupanças e investimentos; nesse mesmo período mais de 100 mil indústrias paralisaram as suas atividades (na medida em que não havia mais dinheiro para ser investido nas indústrias). Em 1932 o comércio mundial tinha-se reduzido a apenas um terço do que era antes do início da crise.

O Keynesianismo

As estratégias criadas para a recuperação da economia norte-americana formata exatamente o que é conhecido como o “Estado de bem-estar social”. Vamos entender igualmente como ocorreu esse processo.

A recuperação das economias capitalistas aconteceu lentamente no decorrer da década de 1930. Para tanto foi de fundamental importância à incorporação das ideias de John Maynard Keynes, que constitui uma importantíssima mudança de política econômica em nível mundial, onde se abandona a concepção de livre-mercado em prol da intervenção do estado na economia. 



As ideias de Keynes foram adotadas pelo presidente Roosevelt, através de um programa de recuperação econômica, conhecido como New Deal, que afirmava a necessidade do Estado interferir na economia, com a finalidade de gerar renda e emprego a todas as pessoas. Entre as estratégias adotas, pode-se destacar o estímulo a produção, geração de postos de trabalho, benefícios trabalhistas e politica de assistência social, destacando-se as seguintes medidas práticas:

  • Aumento dos gastos públicos com construção de obras (finalidade de aumentar os postos de trabalho);
  • Criação de benefícios como o seguro-desemprego, garantias aos idosos e criação da Previdência Social;
  • Regulação do trabalho, com a proibição do trabalho infantil e limitação da jornada de trabalho para 8 horas (aumentar os postos de trabalho);
  • Aumento dos salários e fixação dos preços dos produtos (aumentar a renda e o consumo);
  • Empréstimos aos fazendeiros arruinados (retomada das atividades econômicas).
  • Processo de estatização de inúmeras empresas.

Aos poucos essas medidas surtiram os efeitos desejados, e após a Segunda Guerra Mundial, na medida em que o capitalismo dos Estados Unidos passou a rivalizar com o modelo socialista soviético em uma disputa ideológica, bélica, mas também “social”, elas acabaram se consolidando no território norte-americano e na Europa Ocidental. Os trinta anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial são conhecidos como “os trinta anos gloriosos do capitalismo”, para ter uma ideia do que isso representa, de 1945 até o começo da década de 1970 a economia norte-americana cresceu 4 vezes.

Quem tinha o melhor modelo político-econômico? Qual país poderia prover as melhores possibilidades de vida para a sua população? Essa questão também permeou a Guerra Fria, e buscando mostrar que o capitalismo era a melhor opção, o “Estado de bem-estar social” passou a se esforçar para garantir moradia, benefícios trabalhistas, salários dignos, redes de esgoto e abastecimento de água, educação pública, assistência à saúde, incentivo ao consumo (“cidadania do consumidor”), transporte, lazer, ou seja, uma séria de benefícios sociais e econômicos para a população.

Deve-se destacar que o na Europa o Estado de bem-estar social conseguir garantir uma boa distribuição de renda para a população, reduzindo as desigualdades sociais. Isso não ocorreu nos Estados Unidos, que manteve grande concentração de renda. Para ilustrar com dados estatísticos, por volta de 1950, 25% da população norte-americana estava abaixo da linha da pobreza (principalmente negros e hispano-americanos), os 20% mais ricos controlavam quase 50% da riqueza e os 20% mais pobres controlavam apenas 5% da riqueza nacional.

Ainda hoje o Estado de bem-estar social permanece como modelo de Estado em alguns países da Europa ocidental, como a Noruega, Dinamarca e Suécia.


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