Pela
primeira vez desde a Revolução Cubana, em 1959, Estados Unidos e Cuba ensaiam
uma reaproximação histórica. Em uma entrevista em 2014, Obama lembrou,
inclusive, que os EUA já mantêm relações econômicas com a China há várias
décadas e reatou relações com o Vietnã, não fazia sentido, portanto, manter o
isolamento em relação a Cuba. O que o presidente americano não falou é que o
caso de Cuba é especial por se tratar de um país que fica na América e tinha
uma grande influencia dos EUA até a revolução capitaneada por Fidel Castro.
Revolução
Cubana
Cuba,
a maior das ilhas caribenhas, era uma colônia espanhola até 1898, quando
conquistaram a sua independência com o auxílio dos Estados Unidos. Contudo, se
os cubanos haviam se livrado da Espanha, passaram a sofrer a influência
estadunidense, que obrigou Cuba a assinar em 1901 a chamada Emenda Platt
(anexada a Constituição cubana), que dava aos norte-americanos e direito de
intervir militarmente na ilha, aumentando as possibilidades de controle das principais
atividades econômicas do país. Mesmo com o fim do direito de intervenção em
1934, Cuba continuava subordinada ao domínio dos EUA.
Na
década de 1950, Cuba tinha uma economia promissora, sendo a terceira maior
economia da América Latina. Sua economia era baseada na exportação de tabaco e
açúcar (era um dos maiores exportadores de açúcar do mundo), contudo,
apresentava graves problemas sociais, como concentração fundiária e miséria da
população rural. Havana, a capital cubana, possuía grandes cassinos utilizados
pela elite cubana e pelos norte-americanos, que viam Cuba como uma espécie de
colônia de férias.
Em
1956, Fidel Castro, um jovem cubano e advogado, líder do Movimento
Revolucionário 26 de julho, em colaboração com outros 80 homens, entre eles o
médico argentino Ernesto Guevara, saíram do México (Fidel Castro estava exilado
no México) e tentam desembarcar em Cuba com a finalidade de derrubar o governo
ditatorial de Fulgêncio Batista (Fulgêncio Batista tomou o poder em 1933
ficando até 1944 e voltando ao poder em 1952 com o apoio dos EUA).
Recebidos
pelo exército cubano, os revoltosos são massacrados. Os sobreviventes passaram
a se esconder nas montanhas da Serra Maestra e receber ajuda das classes
sociais cubanas insatisfeitas, em especial os movimentos de esquerda. Com
inúmeras adesões, gradativamente os MR-26 foi ampliando a sua capacidade e
dominando vastas regiões do país. Em 1958 estava forte o suficiente para entrar
em Havana no dia 1º de janeiro de 1959 colocando fim ao governo de Batista,
concedendo benefícios sociais como a reforma agrária e limitando a posse de
terras somente aos cubanos.
A
animosidade em relação aos EUA não foi imediata, mas gradativamente a relação
se tornaria cada vez menos amigável. Em 1960 os EUA recusam-se a comprar a
açúcar cubano, os soviéticos, por sua vez, aceitaram trocar o açúcar por
petróleo a baixo preço. A partir desse momento, Fidel busca uma aproximação com
a URSS e trata de estabelecer acordos comerciais. Em resposta, os Estados
Unidos reduzem a importação do açúcar cubano e sabotam usinas. Mas a irritação
estadunidense chegaria ao ápice com a explosão de uma bomba no porto de Havana
matando uma centena de cubanos.
Em
represália ao atentado orquestrado pela Agência Central de Inteligência (CIA) Fidel
nacionaliza inúmeras empresas norte-americanas. Os Estados Unidos, por sua vez,
dão início a um duríssimo embargo econômico, e em 1961, um dia após Fidel
declarar a opção de Cuba pelo socialismo, tenta efetivamente derrubar o governo
cubano, com uma operação coordenada pela CIA que contava com 1500 homens (a
maioria deles antigos oficiais do exército de Batista). A invasão na Baía dos
Porcos orquestrada pelos EUA acabou se mostrando um grande fracasso, com
dezenas de mortos e mais de 1000 insurgentes presos.
A
tentativa de invasão americana aproximou ainda mais Cuba da URSS, que adotou um
regime ditatorial de partido único (o Partido Comunista Cubano) com Fidel
Castro encarnando a figura de dirigente absoluto. Se não bastasse o incomodo de
ter um país comunista no continente americano, em 1962 a URSS foi flagrada
construindo 40 silos nucleares em Cuba, numa das mais ousadas ações de toda a
Guerra Fria.
O
relacionamento entre a ilha socialista e o grande centro do capitalismo mundial
se rompeu quase completamente depois de 1962. No mesmo ano, os EUA impuseram um
severo embargo econômico, proibindo que empresas norte-americanas se fixassem
no país, e até mesmo vendessem ou comprassem itens por lá. O embargo ainda
estabelecia regras que se estenderiam a outros países que mantêm relações com
os EUA, como a proibição de qualquer comércio exterior com cubanos usando
dólares.
A
situação econômica de Cuba piorou ainda mais depois do colapso da URSS que
comprava os produtos cubanos a preços elevados fornecia o que Cuba precisava a
preços baixos.
Em
2006, com a saúde debilitada, Fidel Castro se afasta do poder, e quem assume e
o seu irmão Raúl Castro. Com Raúl no poder Cuba adotou mudanças importantes,
diminuindo o controle do Estado sobre a economia: reduziu em mais de 1 milhão
os empregos no setor público, bem como a atuação do Estado em diversas áreas fundamentais
como a agricultura e a construção. Ao mesmo tempo abriu a possibilidade da
iniciativa privada atuar em mais de 200 atividades diferenciadas, contratar
trabalhadores e buscar estratégias para atrair o capital estrangeiro.
Com
a mudança da postura cubana, os Estados Unidos começaram a rever algumas
sanções, buscando uma aproximação com o regime cubano, em dezembro de 2014
ocorre um anúncio público pelo presidente norte-americano de aproximação entre
os dois países e a trocar de cidadãos presos sob a acusação de espionagem. Em
maio de 2015 o governo americano aprovou o restabelecimento de serviços de
transporte naval de cargas e passageiros entre os Estados Unidos e Cuba,
interrompidos há mais de 50 anos em função do embargo econômico à ilha
caribenha. Diversas companhias de navegação afirmaram já ter
recebido licenças para operar rotas entre o estado americano da Flórida e Cuba.
A cidade americana de Miami e a capital cubana, Havana, ficam a cerca de 150 km
de distância. O próximo passo é o diálogo para a futura reabertura das
embaixadas. Contudo, o embargo econômico permanece, até porque sua eliminação
depende de aprovação pelo Congresso norte-americano.
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