O Estado socialista



Uma das respostas ao Estado liberal foi o desenvolvimento do socialismo. O socialismo representa uma critica ao mundo capitalista e as péssimas condições de trabalho e de vida do proletariado. Cabe destacar que o Estado liberal resguardava o primado da propriedade privada e as relações econômicas baseadas no liberalismo e na acumulação de capitais engendravam uma grande exploração dos trabalhadores. Nesse aspecto o socialismo representa igualmente uma crítica ao Estado liberal, à estrutura econômica da sociedade e a divisão de classes típica do capitalismo liberal do século XIX.

O Estado socialista defende:

  • O fim da propriedade privada.
  • A distribuição da riqueza.
  • A socialização dos meios de produção.
  • O fim da divisão de classes.
  • Uma economia planificada.
  • Reduzida desigualdade social.

A Revolução socialista na Rússia

O primeiro Estado socialista é fruto da Revolução Russa (1917). No início do século XX a Rússia já possuía uma população de cerca de 170 milhões de pessoas, composta por povos de diferentes origens e religiões, estabelecidas em um vasto território, que compreendia parte da Europa e Ásia.

O poder na Rússia era centralizado nas mãos do czar Nicolau II, que era apoiado por uma burocracia corrupta, por setores militares associados à aristocracia e pela igreja ortodoxa, que em contrapartida recebia benefícios do regime czarista russo.

Os czares acreditavam-se reis pela vontade de Deus, e nenhum poder os limitava. Mais que um monarca os czares governava a Rússia através de uma autocracia, com o poder muito centralizado, proibindo qualquer tipo de associação política ou parlamento e utilizando a sua polícia política (Okrana) para perseguir os opositores.

Se de um lado havia setores privilegiados, que davam a sustentabilidade para o czar russo, e viviam de forma luxuosa, por outro, a maioria da população levavam uma vida dura, explicitando um enorme contraste social existente na Rússia. A abolição da servidão não aliviou a tensão no campo, uma vez que o problema da distribuição da terra para a população mais pobre não foi resolvido. Ao mesmo tempo, ocasionou um significativo êxodo rural, que contribuiu significativamente para o processo de industrialização russa do final do século XIX. Essas pessoas tornar-se-iam um exército de reserva para as indústrias que estavam surgindo nas principais cidades russas.

A Rússia participou da Primeira Guerra Mundial ao lado da Tríplice Entente. A mobilização de 15 milhões de homens para o esforço de guerra acentuou as contradições internas. Por um lado, as condições dos combatentes eram péssimas, faltando condições básicas como botas, armas e alimentos. A guerra afundou a economia russa, arrasou a produção agrícola e mostrou-se um matadouro para os soldados russos. As manifestações a favor do fim da guerra se se multiplicavam.

E o fim do regime czarista iniciou-se exatamente pela camada mais explorada do proletariado: as mulheres. No dia 8 de março de 1917, as tecelãs iniciam uma manifestação que rapidamente se propagou por vários bairros de Petrogrado. Em poucos dias a mobilização alcançou o status de uma greve geral e desta vez, as tropas responsáveis pela repressão, começavam a aderir ao movimento contestatório, descumprindo as ordens do czar e entregando suas armas aos manifestantes.

Os acontecimentos se precipitaram rapidamente, com prédios públicos sendo incendiados, instalações estatais sendo tomadas pelos manifestantes, presos políticos sendo libertados, instalando-se o caos em Petrogrado. O movimento se espalhou para outras importantes cidades russas, com a deposição das autoridades e o estabelecimento dos sovietes (conselhos locais que representavam os operários, soldados e camponeses).

Lênin, que voltara do exílio em abril de 1917, vai canalizar toda a insatisfação popular em favor do Partido Bolchevique, por meio do slogan paz, terra e pão, que sintetizava exatamente o descontentamento com a guerra, com as desigualdades no campo e com a carestia de alimentos e péssimas condições de trabalho nas indústrias. Reivindicando “Todo o poder aos sovietes”, as propostas do Partido Bolchevique – entre elas a imediata expropriação das terras dos proprietários rurais e a distribuição das mesmas aos camponeses, e o controle das fábricas pelos operários – irão rapidamente ganhar espaço no convulsionada Rússia de 1917.

As medidas dos Bolcheviques levaram a Rússia a uma guerra civil, colocando de um lado os revolucionários (vermelhos) e de outro os contrarrevolucionários (brancos). A guerra foi vencida pelos vermelhos, não sem deixar o povo russo em frangalhos e a economia arrasada.

A Rússia socialista: da Ditadura do Proletariado a Ditadura do Partido Comunista

Os sinais de que a Revolução Socialista não toleraria oposição e manteria o poder centralizado evidenciavam-se desde a tomada de poder pelos bolcheviques. Formou-se, também a Tcheka, uma polícia política secreta muito parecida com a famosa Gestapo nazista e com a clara função de perseguir opositores do regime.

Na medida em que não conseguiram maioria no Congresso, os bolcheviques simplesmente dissolveram a Assembleia Constituinte e criaram o Partido Comunista, gradativamente reduzindo o poder popular e dos sovietes, transformando a ditadura do proletariado em uma ditadura do Partido Comunista, comandado por Lênin e Trotsky.

Lênin, o grande líder da revolução acaba morrendo em 1924, abrindo espaço para uma disputa de poder entre Trotsky e Stalin. Aos poucos Stalin conseguiu cooptar a burocracia russa – aquela acostumada desde tempos imemoriais a apoiar o czarismo – derrotando Trotsky, forçando-o a se isolar no exterior em 1929, onde foi assassinado, posteriormente, em 1940.

Com o exílio de Trotsky, Stálin consolidava o seu poder na União Soviética, tornando-se verdadeiramente a personificação do poder. Cassou de forma impiedosamente todos que minimamente se mostrassem uma ameaça e instituiu o que se costuma chamar de “culto à personalidade”, onde se procura continuamente reforçar a imagem do líder e, em contraposição apagar e denegrir a imagem dos opositores.



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