Primeira Guerra Mundial (1 de 4) - As principais motivações


Marco fundador do século XX, a Primeira Guerra Mundial, será utilizada muitas vezes para balizar alguns dos eventos mais significativos do século XX, no que foi denominado por Hobsbawm como a “era da catástrofe” (1914-45). A Primeira Guerra Mundial vai enunciar novas formas de combate e alterar o equilíbrio entre as potências no plano europeu e mundial, com a introdução de novos expoentes como os Estados Unidos e a Rússia socialista. 


Diferentes estudiosos apontam causas diversas para explicar as motivações que levaram à Primeira Guerra Mundial. Para além das divergências podemos apontar alguns fatores que desencadearam a guerra. 


O choque entre os interesses econômicos conflitantes das grandes potências. Em face da expansão do capitalismo monopolista e da industrialização era necessário buscar novas fontes de matérias-primas, mercados consumidores e territórios para onde fosse possível exportar e dinamizar os capitais excedentes. Assim, atrelado aos interesses econômicos tem-se, principalmente a partir da década de 1880, um novo ímpeto colonialista e imperialista. Trata-se de um novo tipo de dominação, amparada pelas novas tecnologias bélicas e efetivada rápida e intensivamente em grandes extensões territoriais da África e da Ásia. 


No final do século XIX as principais potências imperialistas eram a França e a Inglaterra, contudo, em 1871 os prussianos, comandados por Bismarck e liderando os Estados alemães, conseguiram derrotar os franceses na guerra Franco-Prussiana. Como resultado Bismarck conseguiu a anexação da região franco-alemã da Alsácia-Lorena (rica em ferro e carvão), e a união dos Estados alemães sob o comando de Guilherme I. 


Essa tardia unificação da Alemanha num primeiro momento deixou esse país de fora da partilha dos territórios da África e Ásia, contudo, a Alemanha, agora unificada, não se contentava mais em ficar de fora do lucrativo empreendimento colonizador, como declarou o primeiro-ministro alemão Hans von Bullow em 1897: “Não queremos pôr na sombra quem quer que seja, mas também exigimos um lugar ao sol”.


Rapidamente a Alemanha se transformou em uma grande potência, com um espetacular crescimento populacional (de 41 milhões em 1870 para 66 milhões em 1914) e industrial, produzindo dois terços do aço de toda a Europa e gerando mais eletricidade que a Grã-Bretanha, a França e a Rússia em conjunto. Em outras palavras, o crescimento econômico, industrial e militar da Alemanha abalava o equilíbrio entre as potências na Europa, construído ainda nos idos de 1815, quando da derrota definitiva de Napoleão. Tratava-se do surgimento de uma nova aspirante a potência hegemônica. 


“Bem antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha era a economia mais rica, poderosa e avançada do continente. Nos últimos anos de paz, a Alemanha respondia por dois terços da produção de aço da Europa continental, metade da produção de carvão e linhita, e produzia 20% mais energia que Grã-Bretanha, França e Itália juntas. Em 1914, com uma população de cerca de 67 milhões, o império alemão controlava recursos humanos muito maiores que qualquer outra potência da Europa continental, com exceção da Rússia. Em comparação, o Reino Unido, França e Áustria-Hungria tinham naquela época uma população de 40 a 50 milhões cada um. A Alemanha era líder mundial na maioria das indústrias modernas, tais como química, farmacêutica e elétrica. Na agricultura, o uso maciço de fertilizantes artificiais e maquinário agrícola havia transformado a eficiência das propriedades rurais do norte e leste em 1914, e, na época, a Alemanha era responsável por um terço da produção mundial de batatas, por exemplo. O nível de vida havia melhorado a passos largos desde a virada do século, senão antes. Os produtos das grandes empresas industriais alemãs, como Krupp e Thy ssen, Siemens e AEG, Hoechst e Basf, eram famosos no mundo inteiro pela qualidade”. (EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2010)


Esse ímpeto imperialista das grandes potências inflamou os ânimos nacionalistas, o desejo de expansionismo e da formação de grandes nações, como a “grande Alemanha” e a “grande mãe Rússia”.  Contudo, para além dos desejos nacionalistas de países como a Alemanha e a Rússia, existiam na Europa, e em especial nos Bálcãs, povos de etnias, culturas e religiões diferentes, que transformava a região em verdadeiro “barril de pólvora” onde alguns países buscavam sua independência e outros procuram anexar ou influenciar determinadas regiões. 


Como exemplo de um território multicultural, podemos citar o caso do Império Austro-Húngaro, que reunia tchecos, eslovacos, bósnios, croatas, eslovenos, italianos, poloneses, num total de mais de 10 nacionalidades diferentes. O mesmo império que produziu Freud, Kafka, Strauss, era uma peça chave para a manutenção das fronteiras no ocidente. Áustria e Hungria tinham grande poder nas decisões políticas do império, contudo, para outras regiões e nacionalidades, como no caso da Sérvia a Áustria- Hungria isso significava a opressão de seus nacionalismos e identidades. 


Por outro lado, o militarismo, inflamou os ânimos das nações recentemente unificadas (em especial, a Alemanha e Itália), no sentido da resolução dos conflitos externos por meio da via bélica. Mas não somente nessas nações; no caso da França, por exemplo, havia o desejo de revanche e de recuperação dos territórios da Alsácia-Lorena, perdidos para a Alemanha em 1870, na Guerra Franco-Prussiana. 


Com o acirramento dos nacionalismos, as intenções imperialistas e o militarismo, temos no período entre 1870-1914 o que ficou conhecido como “Paz Armada”, onde se tem uma corrida armamentista com a formação de grandes contingentes belicosos. Os países procuravam se preparar para uma situação de conflito que parecia inevitável. Muitos inclusive faziam uma apologia à guerra, que nesse sentido seria encarada como algo necessário para o fortalecimento do homem, e, por consequência, da nação. 


Como síntese, podemos apontar como motivos que desencadearam a guerra:


  • O imperialismo enquanto um potencial ponto de atrito entre as potências europeias. 

  • Uma nova aspirante a potência emergente, a Alemanha.

  • Choque entre o imperialismo e os nacionalismos. 

  • O crescente militarismo e a corrida armamentista. 


Na cartoon abaixo os alemães são retratados como touros selvagens, que não hesitam em atacar suas vítimas (no caso as nações supostamente neutras, como no caso da Bélgica).

Imago História

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