Pensamento Socialista (2 de 4) - Socialismo Utópico



Vamos analisar algumas ideias de um grupo específico de pensadores socialistas, conhecidos, também, como socialistas utópicos. O termo utopia foi cunhado por Tomas More no século XVI e significa “não-lugar”. O não-lugar de More diz respeito a uma sociedade idealizada pelo seu criador, que seria por isso perfeita. O termo passou a designar um mundo fantasioso, irreal, algo impossível de acontecer ou se realizar. 

O termo “utópico” para classificar alguns socialistas foi utilizado por Friedrich Engels, com o objetivo de designar um pensamento sem fundamentação científica, e por isso impossível de efetivamente se concretizar. Observe abaixo o princípio relativo ao fim da propriedade privada, na obra de More:

Os habitantes de Utopia aplicam aqui o princípio da posse comum. Para abolir a ideia da propriedade individual e absoluta, trocam de casa todos os dez anos e tiram a sorte da que lhes deve caber na partilha”.

Vejamos a seguir três exemplos de pensadores utópicos:

Charles Fourier 

Fourier acreditava que o ponto de partida para se alcançar a felicidade consistia na satisfação de todos os desejos. Em Harmonia – a sociedade perfeita de Fourier – a unidade habitacional seria o Falanstério. Habitado por um grupo de 1600 a 5000 pessoas, o Falanstério era dividido de forma a proporcionar a satisfação de todas as paixões.

A paixão era o elemento fundamental da nova conformação social de Fourier. Segundo ele, existem 12 tipos diferentes de paixões, sendo que todas as pessoas podem expressar os seus desejos porque sempre haverá outros indivíduos com o mesmo interesse. Existem paixões ligadas ao amor, à família, a especulação, a intriga, a fogosidade, ao gozo dos mais diversos prazeres, todos eles visando levar o gênero humano à felicidade. Para Fourier existem 810 formas de paixões do tipo amorosas, em um grande contraste com o reducionismo do matrimônio monogâmico, que nem por isso deixa de ser levado em conta. Em Fourier a felicidade é atingida pela variação dos prazeres até o infinito. Contudo, as ideias de Fourier não foram colocadas em prática, uma vez que não conseguiu nenhum indivíduo que aceitasse financiar o seu projeto. 

Robert Owen 

Owen era um capitalista dono de fábricas e adotou algumas ideias que o colocam no rol dos socialistas utópicos, apesar de poder ser enquadrado com muito mais propriedade como um "patrão esclarecido". 

Owen procurou adotar algumas medidas em suas fábricas para melhorar a vida de seus empregados, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho (de 14 para 10h, um grande avanço para a época), além de construir casas para os operários, jardim-de-infância, proporcionar lazer, além da primeira cooperativa de operários.

A experiência em suas fábricas parecia provar que um toque de humanidade além de melhorar a vida das pessoas, melhorava e motivava os trabalhadores, que passavam a produzir mais eficazmente e com maior qualidade. Empolgado, tentou transladar sua experiência para a América, fundando a comunidade de New Harmony, que depois de algum tempo acabou se mostrando inviável. 

Saint-Simon

Acreditava que o avanço da ciência levaria os homens à sociedade perfeita, onde alcançariam à felicidade. Para formatar a sua utopia imaginou uma imensa fábrica, onde todos seriam cientistas, industriais ou operários. Nessa fábrica não existiria exploração, uma vez que a administração seria coletiva, com isso, a propriedade privada deixaria de existir. Para moralizar a sua nova sociedade, Simon imaginou um novo Cristianismo, com o objetivo de substituir as religiões degeneradas e dar novos princípios aos homens, como a justiça social e a fraternidade. 

Princípios do socialismo utópico

Todos os pensadores socialistas acima citados têm em comum a crítica às relações de produção da sociedade no qual estavam inseridos. Baseados em sua experiência real, vão buscar elementos para se pensar uma sociedade perfeita, muitas vezes, é verdade de forma ingênua. Entre os principais princípios do socialismo utópico pode-se citar:

Adoção do corporativismo.
Combate à propriedade privada dos meios de produção.
Crítica ao liberalismo econômico, que levava os industriais a uma exploração desenfreada dos trabalhadores.
Recorrente criação de comunidades autossuficientes, onde os homens, em conjunto, e de forma harmoniosa, procurariam satisfazer as suas necessidades. 
Interferência de um poder central na economia, que tinha como objetivo evitar os abusos dos capitalistas. 



New Harmony, comunidade criada por Owen

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