As Cruzadas (2 de 2) - Visão geral


As Cruzadas: visão geral

O incentivo oficial da Igreja para o movimento das cruzadas começou com o apelo do papa Urbano II, em 1095, solicitando que os nobres se organizassem e partissem para o Oriente. A pregação de Urbano II, contudo, deu origem a um movimento popular espontâneo, onde camponeses, mendigos, guerreiros, velhos, crianças e toda a sorte de pessoas de diferentes classes sociais se entusiasmassem com a empreitada. Trata-se da Cruzada Popular, que aconteceu em 1096.

Liderados por um monge conhecido como Pedro, o Eremita, a multidão partiu totalmente despreparada, ocasionando inúmeros saques pelo caminho e massacrando inúmeras comunidades judaicas. Milhares morreram pelo caminho e quando chegaram a Constantinopla estavam esfarrapados e famintos. Preocupado com aquela multidão incontrolável, o imperador bizantino tratou de incentivar os cruzados a atacar os muçulmanos, no que foram massacrados. Estima-se que sobreviveram a Cruzada Popular apenas 3 mil cruzados. 

Primeira Cruzada

Ainda em 1096 parte a Primeira Cruzada, conhecida, também, como Cruzada dos Nobres, em uma marcha épica de 5 mil km com o objetivo de livrar a Terra Santa da presença dos infiéis. À frente da empreitada estava Godofredo de Bulhão e seu irmão Balduino, o conde de Bologna. Composta por 35 mil guerreiros e 5 mil cavaleiros (além de mulheres e outros indivíduos que muitas vezes acompanhavam a empreitada) a cruzada era uma verdadeira cidade em movimento. Depois de 6 meses de dura viagem os cristãos haviam chegado à Constantinopla (cidade cercada por murros de 9 metros de altura), última reduto cristão cristã antes dos cruzados atravessarem o Bósforo e se aventuraram em território inimigo.

Aleixo I (imperador bizantino), furioso com a grande quantidade de cruzados (esperava um reforço muito menor) manda lacrar os portões impedindo a entrada dos cristãos, fornecendo apenas alimento para a subsistência da empreitada. 

Depois de passarem por Constantinopla e percorreram mais de mil quilômetros em território inimigo, os cruzados chegaram à Terra Santa. Balduino toma Edessa, mata o rei local e coloca sua cabeça em um lança. Na sequencia lançam um cerco a cidade de Antioquia (local da primeira Igreja fundada por Pedro). Depois de oito meses de cerco e a ajuda de um dos vigias de uma das torres da cidade, os cruzados tomam a cidade e massacram a população local. Em 1099, por fim os cristãos, conseguem tomar Jerusalém. Retornam a Europa, com um saldo extremamente positivo: a conquista de Jerusalém (transformada em Reino Latino de Jerusalém) e dos Condados de Edessa e Trípoli. 

A Primeira Cruzada e a tomada de Jerusalém foram marcadas pela extrema violência dos cruzados, que mataram indiscriminadamente, independentemente de sexo, idade ou fé. Estima-se que pelo menos 40 mil pessoas tenha sido massacradas pelos cristãos que não diferenciavam judeus, cristão ou muçulmanos, destruindo sinagogas e mesquitas.

A tomada de Jerusalém deve-se em grande parte à desorganização dos turcos, que estavam preocupados com lutas e enfrentamentos internos. Mesmo assim, a presença dos cruzados na Terra Santa foi marcada por sucessivos enfrentamentos entre cristãos e mulçumanos, no que poderíamos chamar de uma guerra de guerrilha.

Muitos cruzados permaneceram na Palestina e formaram ordens militares de caráter religioso, destacando-se em especial a Ordem do Templo (1118), conhecida também como Ordem dos Templários e a Ordem dos Hospitalários de Santa Maria (1190), conhecida como Ordem dos Cavaleiros Teutônicos

A presença cristã em Jerusalém se estenderia até 1187, quando Saladino (sultão do Egito, responsável pela unificação da Síria e da Mesopotâmia) retomou Jerusalém dos cristãos. À tomada de Jerusalém por Saladino seguiram-se inúmeras levas de cruzados para o Oriente, com avanços e retrocessos em termos de conquistas, mas sem jamais retomar o controle da Terra Santa, que permaneceu em mãos mulçumanas. 

Terceira Cruzada

Uma das mais famosas Cruzadas é a Terceira, ou conhecida, também, como “Cruzada dos Reis”, na medida em que participaram lideranças como Felipe Augusto (rei da França), Frederico Barba-Ruiva (imperador do Sacro Império) e Ricardo Coração de Leão (rei da Inglaterra). Os cruzados não conseguiram derrotar as tropas de Saladino, mas obtiveram um acordo: os cristãos, desde que desarmados, poderiam visitar a Terra Santa.

No plano europeu as Cruzadas tiveram inúmeras consequências: 

No plano político tivemos o decréscimo de poder dos senhores feudais e o fortalecimento do poder real. 

Em termos econômicos tivemos a expansão do comércio com a Ásia e a criação de associações financeiras que possibilitavam o levantamento de recursos para financiar as expedições para o Oriente. 

Neste cenário destacam-se as cidades de Veneza e Genova, que auxiliavam no transporte dos cruzados para o Oriente, e com isso estabeleceram importantes ligações e postos comerciais, transformando-se em verdadeiras potências comerciais. Aos poucos, os produtos orientais começaram a chegar aos europeus, que gradativamente vão se apegando a esse novo padrão de consumo (por exemplo, a utilização do sal, os temperos e a seda, muito mais confortável que as roupas de lã).

De certa forma os movimentos das Cruzadas marcadas pela aventura europeia, pelo desejo de conquistas e lucros, e pela missão de levar e afirmar a fé cristã a outros povos e lugares seria vivificado séculos mais tarde na ambição que acompanhou o movimento da expansão marítima europeia. Nesse sentido, as Cruzadas são fundamentais na reabertura do Mediterrâneo para a navegação (em especial Veneza e Genova), há muito tempo constrangida frente aos mulçumanos. 

Domínio de novas tecnologias agrícolas, que passaram a ser aplicadas na Europa. 

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