Concepção de trabalho - Diferentes versões para a fábula “A cigarra e a formiga”.


I Versão

A cigarra, sem pensar em guardar, a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então, sem provisão na despensa, como saída, ela pensa em recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga, pedindo a ela, emprestado, algum grão, qualquer bocado, até o bom tempo voltar.
“Antes de agosto chegar, pode estar certa a senhora: pago com juros, sem mora.”
Obsequiosa, certamente, a formiga não seria.
“Que fizeste até outro dia?”, perguntou à imprevidente.
“Eu cantava, sim, senhora, noite e dia, sem tristeza.”
“Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança agora...”
(Fábulas de La Fontaine).

II Versão

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro.
Só parava quando cansadinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tique, tique, tique...
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
— Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
— Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
— E que fez durante o bom tempo que não construiu a sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
— Eu cantava, bem sabe...
— Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então que cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
— Isso mesmo, era eu...
Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
(Extraído do livro Fábulas, de Monteiro Lobato).



Imago História

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