Imperialismo (4 de 5): O imperialismo na Ásia



Por um longo tempo a Ásia foi cobiçada pelos europeus. Os produtos asiáticos eram o alvo da cobiça dos navegadores que romperam a barreira do Mar Mediterrâneo no século XV e XVI. Esse interesse fazia da Ásia um continente bem conhecido no século XIX, e sabia-se que abrigava grandes civilizações milenares. 



Os grandes dominadores da Ásia durante a época do imperialismo capitalista do século XIX e XX foram os ingleses, principalmente pelo fato de terem dominado a Índia. 


O caso da Índia

A Índia ainda hoje é conhecida (em parte através da mídia televisiva) por seu sistema de castas. Por volta de 2 mil a.C. a sociedade indiana passou por um processo de organização resultando na criação de quatro castas que representariam partes do corpo de Brahma, uma das principais divindades do hinduísmo (Brahma faz parte da chamada Trimurti que seria uma tripla divindade suprema formada por: Brahma, que representa a criação do universo; Vixnu, que diz respeito a conservação do universo; e Xiva, que representa a destruição).

Formaram-se, portanto, quatro castas: brâmanes (a boca de Brahma) compostos pelos sacerdotes, filósofos e professores; xátrias (os braços) que eram os guerreiros e governantes; vaixás (as pernas) que dizia respeito aos comerciantes e agricultores; e por fim, sudras (os pés) que eram os artesãos, operários e camponeses. 

Não existe mobilidade social nesse sistema e o casamento entre diferentes castas era proibido, mesmo que na prática isso tenha ocorrido criando-se inúmeras subdivisões de castas. 

Têm-se ainda os chamados dalits (o pó sob os pés de Brahma) que seriam descendentes daqueles que teriam violado o sistema de castas, tornando-se párias ou intocáveis e passando a ser considerados impuros pelos demais que evitam tocá-los. Esses indivíduos, que são considerados menos que humanos e sequer fazem parte do sistema de castas ficaram responsáveis pelas atividades menos valorizadas.

Aos intocáveis, só é permitido usar as roupas que acham no corpo dos mortos. Eles sofrem de restrições sociais extremas. Não podem rezar no mesmo templo e não podem beber da mesma corrente de água, pois poderiam poluir a água e indiretamente poluir as outras castas que bebessem dali.

A intensificação da dominação da Índia ocorreu por meio de um processo de ocidentalização e anexação de territórios levado a cabo pelos ingleses. 

Como exemplo do processo de anexação de território, pode-se citar a doutrina da vacância (1848), que determinava que os territórios onde morresse um soberano – sem que ele tivesse sucessor imediato – deveriam ser anexados às possessões inglesas.

Desde o século XVI por meio de acordos firmados com o Império Mongol que dominava a região, os ingleses estabeleceram feitorias em regiões como Bombaim e Calcutá, comprando produtos indianos – como tecidos finos – para vender na Europa com imensos lucros. 

Aos poucos os ingleses foram desalojando os comerciantes locais, até que o monopólio das atividades comerciais foi entregue a Companhia das Índias Orientais que era a responsável direta pela administração da região, inclusive, com forças armadas próprias. 

Com o advento da Revolução Industrial, a Companhia passou a vender os produtos têxteis industrializados ingleses na Índia, acabando com as centenárias tecelagens indianas. 

De milenar e grande exportadora de tecidos finos a Índia passou a exportadora de matéria-prima, em especial o algodão. A dominação inglesa da Índia tem um lado aterrador: as mudanças nas relações de produção, com o deslocamento de milhões de trabalhadores para as atividades ligadas à exportação levou a Índia a enfrentar grandes períodos de carestia de alimentos, matando 30 milhões de pessoas. Um dos episódios mais terrificantes da história da humanidade. 

Houve resistência à dominação inglesa e ao choque cultural imposto pelos ingleses na Índia. Um exemplo emblemático foi a Revolta do Sipaios, que ocorreu em 1857. Os sipaios eram soldados indianos contratados pela Companhia das Índias Orientais e que deviam obediência aos oficiais ingleses. O motivo da utilização de habitantes locais como força armada deve-se á lógica imposta pela Companhia das Índias Orientais que visava o gasto mínimo para obter maiores lucros. Os habitantes locais custavam muito menos do que os soldados ingleses. Calcula-se que na época da revolta o contingente de sipaios chegava a impressionantes 200 mil soldados. 

Havia é claro, a insatisfação em relação ao processo de ocidentalização e a doutrina de vacância, mas o estopim da revolta foi à incorporação de uma novidade em termos bélicos: a utilização de cartuchos que continham gordura de vaca ou de porco.

A utilização de gordura de vaca ou de porco como impermeabilizante dos cartuchos, que deveriam ser rasgados com a boca, trazia sérios problemas para as duas principais vertentes religiosas da Índia: para os hindus a vaca era considerada um animal sagrado e para os muçulmanos o contato próximo com o porco poderia ser considerado algo impuro. Houve a repressão britânica à revolta, proporcionando inúmeros massacres da população com milhares de pessoas mortas. 

Após a vitória sobre os sipaios os ingleses repensaram as bases da dominação na Índia. Em primeiro lugar acabaram com a administração da Companhia das Índias Orientais, passando a governar diretamente a Índia. Ao mesmo tempo passaram a buscar alianças com líderes locais, inclusive, integrando-os à administração local. 

Com o intuito de evitar novas rebeliões os ingleses ainda instigaram a rivalidade entre hindus e muçulmanos, dividindo a população. Por fim a rainha Vitória foi coroada imperatriz da Índia em 1877 sem nunca ter colocado os pés na Índia.

O domínio britânico na Índia perdurou até a metade do século XX. A Índia foi a primeira grande experiência imperialista do século XIX e acabou formatando um modelo que de uma forma geral foi seguido posteriormente por outras potências: 

  • Se necessário utilizar de forte repressão. 
  • Buscar alianças com líderes locais. 
  • Se utilizar das disputas locais de acordo com os seus interesses. 
  • Praticar o intensivo controle militar das regiões conquistadas. 
  • Por meio de empréstimos potencializar o controle dos territórios e a obtenção de lucros. 
  • Mapear e explorar as riquezas locais a exaustão, sem levar em conta os interesses das populações locais. 

Os imensos lucros obtidos pelos ingleses na Índia possibilitaram que eles estendessem seus domínios em grande parte do continente asiático, incluindo parte da China. 

O caso da China

Da mesma forma que a Índia, a China causou fascinação aos europeus por centenas de anos. Os produtos chineses durante séculos foram apreciados pelos europeus, que importavam as especiarias chinesas, movimentando a economia local. Enquanto a Europa atravessava o período feudal, marcado pela ruralização e pela descentralização do poder, o China esbanjava uma cultura refinada e altamente organizada. 

Vários países passaram a estabelecer contatos comerciais com os chineses, destacando-se a Inglaterra a partir do século XVIII, por intermédio da Companhia das Índias Orientais. Os estrangeiros eram vistos com desprezo pelos governantes chineses, e os produtos ocidentais não despertavam a sua cobiça, sendo vistos no máximo com curiosidade. Isso fazia com que – mesmo obtendo lucros fabulosos revendendo os produtos chineses na Europa – a balança comercial entre ingleses e chineses sempre fosse favorável a China, na medida em que não se interessavam pelos produtos ocidentais.

Contudo essa situação começaria a mudar no começo do século XIX, uma vez que os europeus descobriram um produto para ser vendido na Índia com grandes lucros: o ópio. 

Consumido abundantemente, inclusive pela elite chinesa, o ópio transformou-se em um sério problema para a China. O seu consumo em território chinês havia sido proibido em 1800, mas, mesmo assim, os traficantes ingleses vendiam o produto, que era cultivado pelos ingleses na Índia. 

Como resposta aos traficantes e ao governo inglês, os chineses tomaram medidas energéticas em 1839 e confiscaram cargas de ópio de navios ingleses lançando-as ao mar. Alegando prejuízo, a Inglaterra bombardeou inúmeras cidades inglesas, no que ficou conhecido como a Guerra do Ópio, que durou de 1839 a 1842 e que foi vencida pelos ingleses, amparados por sua supremacia naval. 

A derrota chinesa teve como consequência a assinatura do Tratado de Nanquim (1842) que obrigava os chineses a abrirem 5 de seus portos ao comércio estrangeiros, legalizava o comércio de ópio na China e cedia o controle da ilha de Hong Kong aos ingleses.

Mais do que isso a derrota chinesa alertou as demais potências europeias para a fraqueza da China, que passou a ser acossada e humilhada por inúmeros países. 



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