Napoleão (do nascimento em 1768 até o início do Consulado em 1799)
Napoleão nasceu em Córsega, em uma época conturbada. A Ilha de Córsega havia conquistado independência em relação à Gênova em 1755 (os genoveses controlavam a região desde o século XVI). Mas Gênova negociou Córsega com os franceses como pagamento de dívidas no ano de 1768, ou seja, nem franceses e nem genoveses reconheciam a independência da ilha. Assim, com a força das armas, a França de Luís XV tomou efetivamente Córsega em 1769, acontecimento que ocorreu exatamente no ano do nascimento de Napoleão.
Embora lutasse pela independência de Córsega e inicialmente fosse contra a anexação francesa, o pai de Napoleão, Carlo Bonaparte, conseguiu trabalho e alguma influência junto ao novo governo francês, o que garantiu que Napoleão e seu irmão José, após comprovação de descendência nobre, conseguissem estudar na França. Desta forma, com nove anos, Napoleão ingressou no Colégio Militar de Brienne, onde permaneceu de 1779 a 1784, e de onde saiu para ingressar no exército francês aos 16 anos de idade como segundo tenente.
Eis que explode a Revolução Francesa em 1789. A convulsão ocasionada pela revolução atingiria Napoleão em cheio. Porém, no início mostra-se muito mais preocupado com o destino de sua pátria, Córsega. Resolve voltar para ilha, ocupa inicialmente o cargo de subcomandante, esmagando uma revolta local em 1792, e em 1793, já como capitão, comanda, a partir de Córsega, um ataque fracassado à cidade de Cagliari, capital da vizinha Sardenha. Ainda em 1793 se vê obrigado a reprimir outra revolta, agora contra um antigo revolucionário, amigo da família Bonaparte e admirado por Napoleão. Mesmo optando por não participar diretamente do ataque ao ídolo revolucionário, sofre represália dos rebeldes e acaba sendo forçado a voltar para a França, agora levando consigo a sua família.
Napoleão retorna para a França em um dos momentos mais decisivos da Revolução Francesa. Em 1793 os jacobinos haviam tomado o controle da Convenção Nacional, tirando do poder os deputados girondinos. Como forma de contra-atacar, muitos girondinos passam a apoiar os inimigos da França revolucionária, em especial a Inglaterra e Espanha. Nesse ínterim, os girondinos controlavam o porto de Toulon, no sul da França, e o agora capitão de artilharia Napoleão Bonaparte (que era do partido dos jacobinos) é convocado para atuar no cerco à cidade de Toulon pelas forças republicanas revolucionárias. Napoleão, enfim, estava entrando no olho do furacão da Revolução Francesa.
Havia meses de impasse e dificuldades para a tomada da cidade até a chegada de Napoleão, então com 24 anos de idade. Apresenta um plano de ação audacioso para vencer os inimigos e recuperar o controle da cidade. Aceito pelo Comitê de Segurança Geral, a proposta de Napoleão é colocada em prática e em apenas 4 dias mostra-se vitoriosa. Considerada brilhante, a ação acabou alçando Napoleão ao posto de tenente-coronel, e no ano de 1794, a general de brigada. Em meio a Revolução, Napoleão começa a crescer em prestígio entre as forças republicanas, em especial, as mais radicais, ligadas à Robespierre. Inclusive, valendo-se do prestígio adquirido junto ao governo jacobino, Napoleão encaminhou para o Comitê de Segurança Geral (que cuidava dos assuntos militares) os planos para uma campanha na Itália, que apesar de bastante impressionantes, foram recusados naquele ano de 1794.
Contudo, da mesma forma que colhia admiração e promoção na carreira militar, a aproximação em relação aos jacobinos mais radicais e a Robespierre quase lhe custou a vida. Em 27 de julho de 1794, Robespierre sofre um golpe e é retirado do poder, sendo guilhotinado no dia seguinte. Como era de se esperar, muitos aliados de Robespierre são perseguidos e executados e a cabeça de Napoleão corre sério risco. Chegou a ficar preso, mas os contatos políticos possibilitaram que fosse defendido por deputados importantes para depois ser inocentado.
Depois da quase execução, Napoleão mantém a relação fria com o governo do Diretório, quando em 1795 recusa combater na Revolta da Vendéia, verdadeira guerra civil que ocorria no oeste da França desde 1793. Ficou com sua carreira militar em risco, mas em outubro do mesmo ano surgiu uma possibilidade de redenção junto ao novo governo. Explodira uma revolta em Paris contra o Diretório, e acuado, o governo exigiu o auxílio de Napoleão. Vencida a revolta, Napoleão conseguiu prestígio junto ao novo governo, recebendo o cargo de general de divisão e, posteriormente, comandante do exército do interior. Enfim, Napoleão poderia colocar em prática seus planos de campanha militar na Itália que acalentava fazia dois anos, desde a época da Convenção Nacional.
Dois dias depois de seu casamento, com Josefina de Beauharnais - que ocorreu no dia 9 de março de 1796 - Napoleão era alçado para o cargo de comandante-chefe do exército francês na Itália. Na época, a Itália era formada por uma série de Estados que estavam disputando territórios em um intricado jogo de política e conquistas militares. As tropas francesas entraram na Itália a partir da República de Gênova e sob o comando de Napoleão, venceram os austríacos na Sardenha, obrigando os habitantes do Piemonte a aceitar um acordo. Na sequência os franceses venceram novamente os austríacos no interior da Lombardia, na Batalha de Lodi, abrindo caminho para a tomada triunfal de Milão em 14 de mais de 1796. Após a tomada de Milão, Napoleão foi ao encontro dos austríacos em uma série de duras batalhas na região de Trento, com duras derrotas e uma fundamental vitória na Batalha da Ponte de Arcole, em Verona.
Já no ano de 1797, colhendo os frutos das vitórias contra os austríacos, Napoleão passa a utilizar a diplomacia, chantagem, barganha e ameaças para expandir a sua influência e domínio na região, acordando não atacar Roma e submetendo a República de Veneza e depois de Gênova por meio de acordos vantajosos. Em outubro de 1797 viria, enfim, um acordo com os austríacos, onde se reconhecia o direito francês sobre a Bélgica, boa parte do norte da Itália, além de ilhas da região da Jônia. A campanha na Itália entre 1796-97 mostrava-se extremamente vantajosa para os franceses e Napoleão despontava como uma das principais lideranças militares e políticas da França, um verdadeiro herói de guerra saudado pela população e pelo próprio governo do Diretório (neste momento francamente favorável a Napoleão).
Próximo passo na carreira de Napoleão: a Inglaterra. Desde que havia acordado um acordo com os austríacos, Napoleão já havia sido designado para comandar as tropas francesas contra Inglaterra. Contudo, Napoleão sabia que a marinha francesa não tinha condições de vencer a toda poderosa marinha inglesa, a melhor do mundo. Impunha-se, naquele momento, outro objetivo militar: a conquista do Egito. A conquista do Egito possibilitaria à França intentar conquistas na Índia inglesa e ampliar consideravelmente o comércio com o Oriente, o que poderia fortalecer a França e, por sua vez, enfraquecer o poderio inglês. Desta forma, em março de 1798 partiu da França uma poderosa frota de 400 navios e 35 mil soldados. Facilmente Napoleão tomou Malta, no Mediterrâneo, conseguiu evitar o confronto com a frota inglesa comandada pelo almirante Nelson e desembarcaram no mês de junho em Alexandria. Na época o Egito era dominado pelos mamelucos, que haviam estabelecido o controle do Egito tornando-o parte do Império Otomano.
Em 21 de julho as tropas de Napoleão venceram os mamelucos na famosa Batalha das Pirâmides, mas 10 dias depois, em primeiro de agosto, a frota do almirante Nelson destroçou a frota francesa ancorada em Alexandria, isolando as tropas francesas. O revés não impediu que os franceses continuassem em sua campanha, tampouco, que Napoleão – e os 150 estudiosos da missão científica que o acompanhava – visitassem templos e as famosas pirâmides em Gizé. Trata-se da maior expedição científica enviada ao Egito até aquele momento.
O controle de Napoleão no Egito não duraria muito tempo. Por um lado é obrigado a sufocar revoltas no Cairo contra a presença francesa, por outro, em setembro, os otomanos que controlavam a Síria preparam um ataque contra as tropas francesas. Impetuoso, Napoleão toma a iniciativa, e em fevereiro de 1799 marcham com um exército de 13 mil soldados em direção à Palestina para enfrentar o exército inimigo tendo em vista, posteriormente, avançar em direção à Índia Britânica, ou em último caso, preparar uma rota de retorno para a França através da Turquia.
A essa altura, o exército francês começa a ser assolado pela peste negra. Foi no Egito, na tentativa de cerco fracassado que durou 2 meses para a tomada de cidade de Acre, que Napoleão sofreu uma das piores derrotas de toda a sua carreira militar. Se não bastasse todas as dificuldades para a tomada da cidade e a peste, a Inglaterra conseguiu dificultar o abastecimento das tropas francesas bloqueando o fornecimento de suprimentos e reforços de tropas pelo mar. Em agosto, Napoleão abandonou a campanha e retornou para o Cairo com apenas 8 mil soldados. Para piorar a situação, ficou sabendo que a Rússia e a Áustria haviam se aliado e retomado o controle de parte das terras na Itália que Napoleão havia conquistado entre 1796-97.
O período napoleônico (1799-1815)
O Diretório – em sua dependência em relação às forças militares – abriu espaço para que em 1799, através de um golpe apoiado por políticos burgueses e pelo exército, um de seus mais brilhantes generais subisse ao poder, Napoleão Bonaparte.
Não podemos esquecer que o contexto francês favoreceu Napoleão. Em primeiro lugar, a abolição dos privilégios de classe possibilitou que as suas conquistas militares o elevaram ao posto de general. Por outro lado, a população francesa desejava um governo que colocasse fim às agitações internas, e a burguesia, ainda assombrada pelo período do terror, ansiava por um governo forte o suficiente para impedir que os jacobinos ou os monarquistas retomassem o poder.
Consulado (1799-1804)
Nesse período, Napoleão gradativamente irá centralizar o poder. Uma nova constituição lhe conferiu amplos poderes, utilizando-os para reforçar o seu poder pessoal. Perseguiu e prendeu inimigos políticos, censurou e utilizou amplamente a imprensa a seu favor. Ao mesmo tempo impulsionou a economia francesa, confirmando a reforma agrária feita durante a Revolução, criou o Banco da França e manteve a inflação sob controle, incentivou a indústria e a educação.
Napoleão criou ainda o novo Código Civil, ou Código Napoleônico, que protegia o direito a propriedade e reafirmava a igualdade de todos perante a lei (por outro lado, estabeleceu limites a liberdade das mulheres e permitiu a escravidão nas colônias francesas). O código favorecia amplamente os burgueses, defendendo a liberdade de comércio e proibindo, inclusive, os sindicatos e as greves, e em caso de contendas trabalhistas, prevalecia sempre à palavra do empregador.
Com o Código Napoleônico, efetivou-se a separação entre a Igreja e o Estado, sendo que muitas das atribuições da Igreja passaram a ser executadas pelo governo local, como o casamento e o divórcio. A laicização do estado e a introdução da ideia de liberdade religiosa permitiram que grupos tradicionalmente perseguidos, como os judeus, pudessem se estabelecer, construir sinagogas e contribuir para o crescimento econômico da região.
A revolução introduziu outras novidades na França e nos países que foram conquistados, como um novo calendário (com uma semana de dez dias e sem do domingo cristão), a coleta de lixo e um sistema unificado de medidas, com a introdução do metro do litro e do quilograma, padronizando as medidas nos territórios dominados por Napoleão.
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