Ditadura Militar (3 de 5) - O “milagre econômico” e a concentração de riquezas

No plano econômico os governos militares herdaram um quadro com a inflação chegando a 80% ao ano e o crescimento do Produto Interno Bruto muito reduzido. Com a intenção de melhorar os índices da economia brasileira foi adotada uma política recessiva e monetarista indicada pelo Fundo Monetário Internacional, que levava em conta o corte de subsídios, a manutenção dos salários em patamares reduzidos e o controle da inflação (com o objetivo de reduzir ao patamar de 10% ao ano).

Por meio do lançamento do PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo) os militares ambicionavam elevar o Brasil a categoria de uma grande potência mundial, aumentando a renda per capita e elevando o crescimento do PIB. 

Para garantir esse crescimento, se procurou garantir facilidades para o crescimento econômico e principalmente para os investimentos externo no país:
  • Grande flexibilidade nas remessas de lucro.
  • Controle dos sindicatos.
  • Repressão aos trabalhadores e lutas no campo, consolidando a concentração fundiária e aumentando o êxodo rural.
  • O arrocho dos salários e a formatação de uma mão-de-obra barata.
  • Fim da estabilidade no emprego e criação do FGTS.
  • Com a finalidade de captação de recursos por meio da poupança, criação da correção monetária. Em um contexto de inflação alta acaba por criar um mecanismo que enraíza a inflação nos meandros da economia brasileira. 
  • Incentivos do governo ao setor exportador, num momento de crescimento da economia mundial.
  • Crédito visando à incorporação da classe média e alta ao mercado consumidor.
Com essas medidas, os investimentos externos e do próprio Estado se ampliam no país, que vai assistir a um surto de crescimento econômico que ficou conhecido como “milagre brasileiro”. Durante o período de 1968 a 1973 a economia brasileira cresce em média 10% ao ano. 

Falava-se em “fazer crescer o bolo, para depois reparti-lo”, o que somente ajudava a mascarar um crescimento que privilegiava a concentração de riquezas nas mãos de poucos:

  • Em 1960 1% da população mais rica detinha 11% da renda nacional, em 1970 já detinham 18%.
  • Em 1960 5% da população mais rica detinham 28% da renda nacional, em 1976 já detinham 40%.
  • Em 1960 50% mais pobre da população detinham 28% da renda nacional, em 1970 detinham apenas 13%.
  • Em 1960 um trabalhador que ganhasse um salário mínimo precisava trabalhar 65 horas para comprar os alimentos básicos necessários para a sua família, sendo que na década de 1970 esse mesmo trabalhador precisava de um total de 153 horas.
  • Os índices sociais e a qualidade de vida da população não melhorou, ao contrário, alguns indicadores como a mortalidade mostravam que a situação crítica se acentuava, por exemplo, em 1964 a mortalidade infantil era de 70 crianças para 1000 nascimentos, sendo que na década de 1970 esse indicador apontava 115 crianças mortas para o mesmo grupo de 1000 nascidos.
A partir de 1973 o Brasil, como resto quase todo o mundo, vai sofrer como a Crise do Petróleo (os países da OPEP elevaram em pouco tempo o valor do barril de petróleo de 3 para quase 12 dólares), o que levou a uma elevação dos juros no mercado financeiro internacional fazendo com que o Brasil, que dependia da importação do petróleo (80% do petróleo era importado) visse suas contas e sua dívida aumentarem vertiginosamente. Trata-se de um momento de recessão mundial, com elevada inflação e aumento dos déficits públicos. Observe a escalada da inflação no Brasil:

·         Final da década de 1970, inflação de 94% ao ano.

·         1980 inflação de 110% ao ano.

·         1983 inflação de 200% ao ano.

A partir de 1975 o Brasil começaria a sentir os efeitos de uma grave crise econômica que se prolongaria por toda a década de 1970 e adentraria nos anos 80 culminando com a decretação da moratória em 1983, onde o Brasil reconhecia a sua incapacidade de pagar os empréstimos externos. 



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