Holandeses no Brasil

A colonização portuguesa, que teve seu marco inicial na expedição de Martim Afonso de Souza, começava a render lucros expressivos para a coroa portuguesa. Em termos de posse do território, a expulsão dos franceses parecia indicar que a posse estava assegurada. Contudo, no século XVII, a América portuguesa voltaria a ser alvo de incursões colonizadores, desta vez por parte dos holandeses.

Em 1624 os holandeses tentam tomar a Bahia, mas são expulsos em pouco tempo. Mais tarde, em 1630, tentam uma nova investida, desta vez em Pernambuco, e conseguem conquistar uma grande extensão territorial, que equivalia a sete capitanias, que ficaram sob o seu controle até a década de 1650.

Para entender o sentido da invasão holandesa, temos que recuperar algumas informações importantes. Em primeiro lugar, no período entre 1580 e 1640, por uma questão de sucessão ao trono, Portugal e também as suas colônias, ficaram sob o domínio espanhol, evento conhecido como União Ibérica, ou seja, quem mandava em Portugal, e por consequência em suas colônias, era o rei da Espanha. Nessa época a Holanda lutava pela sua emancipação do domínio dos Habsburgo que reinava na Espanha, o que conseguiram em 1581.

É claro que os espanhóis não vão ficar nada satisfeitos com a Holanda e como represália, proibiram o comércio de todos os portos espanhóis com os holandeses. O problema é que os holandeses tinham grandes investimentos na produção de açúcar no Brasil, e esse impedimento espanhol proporcionará muitos prejuízos e não será esquecido pela Holanda, que vai nutrir por longo tempo o desejo de retomar o comércio do açúcar produzido no Brasil.

Para rivalizar com os espanhóis os holandeses criaram duas companhias: a Companhia de Comércio das Índias Orientais (objetivo de atuar no Oriente), e a Companhia de Comércio das Índias Ocidentais em 1621 (para atuar no Ocidente). Cabe destacar que o objetivo dessas companhias era obter grandes lucros, inclusive, por meio de ações militares e invasões. Em especial a Companhia de Comércio das Índias Ocidentais tinha como um dos objetivos ocupar a zona de produção de açúcar no Brasil.

No começo os portugueses e brasileiros ofereceram resistência à ocupação holandesa, por meio de táticas indígenas de combates, ou por vezes os holandeses pareciam mais interessados em pilhar, como na invasão de Bahia em 1627 onde levaram 1654 caixas de açúcar (quase 20% da produção anual do Recôncavo Baiano) além de tabaco, algodão ouro e prata.

Sem conseguir sucesso em uma invasão na Bahia os holandeses passaram a pensar na tomada de Pernambuco, que possuía 121 engenhos. O ataque, que começou em 1630 contou com 65 embarcações e 7280 homens. Ocorreu resistência à invasão dos holandeses, o que ficou conhecido como “guerra brasílica”. Mesmo com a resistência, entre 1630 e 1637 os holandeses conseguiram consolidar o seu domínio na região entre o Ceará e o rio São Francisco.


Com o tempo, e principalmente a partir da chegada do jovem coronel do exército, Maurício de Nassau (tinha 32 anos), iniciou-se um período de conciliação entre holandeses e os senhores de engenho da região. Nassau administrou a “Nova Holanda” no período de 1637-44, com princípios considerados liberais. Quando chegou à capitania, a situação não era muita favorável: muitos engenhos estavam destruídos ou foram abandonados e a população estava desanimada e insegura em com relação aos invasores. Nesse sentido, Nassau procurou adotar medidas que lhe conferissem credibilidade e ao mesmo tempo retomasse a atividade produtiva na capitania. Entre essas medidas pode-se destacar:

  • Concedeu crédito para os senhores de engenho e para a compra de equipamentos.
  • Vendeu a crédito os engenhos que haviam sido abandonados.
  • Para garantir a oferta de mão-de-obra consegui regularizar o tráfico de escravos para a região.
  • Estabeleceu a obrigatoriedade dos proprietários plantarem mandioca (“pão do país”) em número proporcional à quantidade de escravos com o objetivo de evitar crises de abastecimento.
  • Calvinista, adotou a tolerância religiosa em relação aos católicos e judeus (“cristãos novos” que praticaram o judaísmo às escondidas), permitindo, inclusive, a construção da primeira sinagoga da América (em 1640 já eram duas em funcionamento).
  • Incentivou a vinda de artistas para Pernambuco.

Com melhoramentos em Recife a cidade foi elevada a categoria de capital no lugar de Olinda. Na região do porto criou a Cidade Maurícia, uma tentativa de criar no Brasil uma réplica da capital holandesa. Entre as obras executadas na cidade estão palácios, um observatório, um templo calvinista, calçamento e saneamento de algumas vias, as primeiras pontes de grandes proporções no Brasil, um pomar para plantas raras e habitat para animais de diferentes partes do mundo (chamado de “jardim-recreio”). Nassau acabou recebendo o apelido de “O Brasileiro”, mas isso não impediu que pressionado pelos holandeses deixasse o Brasil.

Em 1644 Nassau deixa a administração da Nova Holanda e retorna à Europa. Diferentemente do que havia preconizado antes de partir, a nova administração muda as regras e resolve liquidar as dívidas dos senhores de engenho inadimplentes, inclusive, com o confisco das propriedades. A partir deste momento, começa a se ampliar novamente a resistência aos holandeses, agora com o apoio explicito de Portugal, que conseguira se livrar da dominação da Espanha. Esse movimento de rejeição aos holandeses ficou conhecido como Insurreição Pernambucana (1644-54) e vai ter o seu ápice com a expulsão dos holandeses.

A “reconquista” do território comumente foi celebrada como uma espécie de nascimento do Brasil, uma espécie de união entre as três raças em nome da libertação frente aos holandeses, contudo, muitos escravos, índios, lavradores e senhores de engenho apoiavam os holandeses.

Em 1661, com mediação inglesa foi acertada a “Paz de Haia”. Ficava estabelecido por meio desse tratado que os portugueses manteriam os territórios conquistados na América e na África, mas pagariam indenizações volumosas, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro para os holandeses, sob a ameaça de uma nova invasão da marinha holandesa. Esse valor foi pago em prestações, em 40 longos anos, sendo que para saldá-la foi estabelecido um imposto que teve validade no Brasil até o século XIX. Como consequência da ocupação do nordeste, os holandeses adquiriram as técnicas para a produção do açúcar, era o fim do monopólio da produção de açúcar por Portugal e o início do declínio dos lucros expressivos para a coroa lusitana. Teriam que pagar mesmo vencendo, o que traria grande insatisfação para a população local.

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