Brasil Colônia: Os indígenas e os portugueses

A relação entre os portugueses e os povos indígenas vai muito além da utilização da mão-de-obra e da exploração do pau-brasil. Cabe destacar, que para o povoamento do território foi imprescindível alianças entre portugueses e determinadas tribos indígenas que viviam no território brasileiro. Num ambiente extremamente hostil, com um número de homens insuficiente, as alianças com indígenas era de fundamental importância para que os portugueses pudessem fazer frente a tribos indígenas consideradas hostis e aos invasores estrangeiros.

Há de se destacar, igualmente, que a guerra entre as tribos indígenas não era algo incomum. Não raro, essas tribos viam algum potencial em se aliar com os portugueses com a finalidade de derrotar tribos inimigas, e os portugueses fizeram com bom grado uso dessas rivalidades locais. Os indígenas eram realocados nas proximidades das povoações portuguesas, para serem catequizados, civilizados e, enfim, transformados em “vassalos” dos portugueses. Nessas guerras os portugueses conseguiram um grande número de indígenas que eram capturados por tribos inimigas e trocados com os portugueses.

Foram, também, os indígenas aliados, ou mais especificamente, os tupiniquins, que ajudaram os portugueses a expulsar os franceses do Rio de Janeiro, e mais que isso, os índios ficaram responsáveis por resguardar aquela região de ataque de invasores externos. Como prêmio pela colaboração, lideranças indígenas ganharam territórios e prestígio, adotando, por vezes, nomes portugueses. Assim, se por um lado, existiu uma impressionante aniquilação de tribos indígenas inteiras, por outro, muitos índios foram aldeados e aculturados dando origem à composição genômica da sociedade brasileira, que apresenta quase 10% de ancestralidade indígena.

Cabe destacar ainda, que para além das alianças, da aculturação ou adoção de sobrenomes, a presença dos portugueses para as populações nativas foi avassaladora. Estima-se que em 1500 a população local estava em torno de 1 milhão a até 8 milhões, sendo que a invasão dos portugueses teria reduzido essa população entre 25% e 95%. Entre os fatores que levaram a dizimação dos povos indígenas está a falta de imunidade que levou ao choque biológico ocasionado por agentes patogênicos como a varíola, o sarampo, a coqueluche, a catapora, a difteria, o tifo, a peste bubônica e até mesmo a gripe. Além disso, devemos considerar a exploração do trabalho indígena, o estímulo dos portugueses às guerras indígenas e a escravização dos índios que eram considerados hostis.

A guerra contra as tribos hostis era legitimada pela ideia de “guerra justa”, que deveria ser travada contra os povos que não aceitavam a dominação dos portugueses ou seus aliados, praticavam a antropofagia ou se negavam a conversão, não aceitando aquela que deveria ser a verdadeira fé.

Muitas vezes, o olhar lançado pelos europeus em relação aos nativos estava recheado de fórmulas simplistas. Isso ajudou a consolidar uma imagem distorcida das sociedades e culturas indígenas. Pero Magalhães Gândavo, por exemplo, escreveu sobre os nativos que “A língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras — não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé,  nem  Lei,  nem  Rei;  e  desta  maneira  vivem  sem  Justiça  e  desordenadamente”, sem conter sua antipatia relata que “São estes índios muito desumanos e cruéis, não se movem a nenhuma  piedade:  vivem  como  brutos  animais  sem  ordem nem  concerto  de  homens,  são  muito  desonestos  e  dados  a sensualidade  e  entregam-se  aos  vícios  como  se  neles  não houvera razão de humanos”. Trata-se de uma visão que desconsidera a cultura, a estrutura social, a religiosidade, as redes comerciais e a estrutura de poder dos povos ameríndios. 

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